Haverão de chamar por muitos nomes
E nomearão em minha pessoa monstros e demônios
E desgraças que são tantas e tanto das tragédias
O infortúnio atenderá por um epiteto meu
Haverão de me esquecer como quem se cura
Como quem se purga d'algum grave pecado
E me esquecerão como quem esquece uma doença
Haverá ainda por mim um possível e aceitável desprezo
Algo assim que disfarce o ódio ou o asco
Haverão de me odiar com tanta força
Como se não merecesse amor algum
Até esquecerem eu ter existido
Tudo porque não ouso e nem sei reclamar
Da vida que me dão ou que me deixam viver
Não se pronunciará meu nome nas histórias
Como quem evita uma maldição
Apagarão toda a lembrança minha
Pensamentos, palavras, gestos
Rastros e restos, por não combinarem mais
Com qualquer coisa assim de mim
Do alto desse fim eu direi
Eu sei, eu sei
Sempre soube e sei
Desde o olhar profundo da morte
Quando na calada da noite
Cruzar despercebido com o meu
Tudo porque não sei guardar
Nem carregar rancores
Nem atiçar minhas palavras
Com outras estranhas cores...
Nem dar às coisas outros nomes
Que não os que elas tem...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 15/12/2010
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2674085
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