O Tempo e as Lembranças.

Tres anos e pouco se passaram e agente não se viu mais.

Chronos, esse deus tempo não poupa niniguém...

Por isso, um abismo sem divisas abriu-se entre nós...

O que fazer se as flechas douradas de Eros não te atingem mais? Pobre Psiquê, tiste alma. O que dizer, se as lembranças me tomaram de assalto o lugar das emoções? Ai de mim! De um deus, tornei-me um pobre diabo.

E, de lembrança em lembrança, retalhei meus sonhos, e de retalho em retalho, me vi de repente prisioneiro dentro de um caleidoscópio, formando junto com pedaços, figuras belas mas insignificantes. Revirei as páginas deste jornal velho, e ví fotos desbotadas e sem sentido. Apenas, rostos e lugares que parecem nunca terem existido! E, o que significavam? Significavam saudade e recordações - e é isso que retenho. Recordações de um tempo dentro de um outro tempo, e de outro, e de outro, onde coisas se misturavam e depois se separavam para formarem extranhas figuras. Mas, elas eram reais. Algum dia, em algum lugar desta cidade, essas figuras foram algo surreal, contudo estavam alí e me acompanharam de dia e de noite. Elas falaram, sorriram, suspiraram e gemeram. Pode-se até dizer que foram parte de minhas experiências arquetípicas,aquelas que me fizeram crescer e me colocaram como uma criança teimosa de castigo diante do Criador. Em verdade, acho que nós dois ficamos de castigo... Nesta vida, tão breve quanto fascinante, tudo passa. Eu passei, você também passou. Nós passamos.

Mas, as recordações ficaram como uma marca essencial e elementar nas nossas mentes e nos nossos corações. Então, esse tempo é como uma sombra que irá corrrer atrás de nós enquanto existirem os elementos da terra, do fogo, da água e do ar...

São também essas recordações que agora simplesmente me consolam e me remetem a uma viagem ao passado em locais aqui nesta cidade ou fora dela. E aí, me lembro de coisas assim como fotografias desbotadas mas que existiram e ficaram retidas nas profundezas do meu inconsciente. Me lembro que toda vez que eu ia à Brasília eu colhia um flor do cerrado pra você... Lembro daqueles pedidos que você me fazia com a voz manhosa e um olhar de gata sempre muito verde e muito brilhante e que me era quase impossível negar: Faz amor comigo?...

Me lembro daquelas esperas ao meio dia quando você saia do trabalho em frente as Lojas Americanas - só pra te ver.

Algumas vezes, meu coração pulava literalmente dentro do peito, era emoção demais... Nunca esquecerei aquelas tardes maravilhosas que passamos juntos na Vila Brasília, nem das rodadas de cervejas com nossos amigos e dos meus e dos teus ciúmes, das nossas pouquíssimas brigas que sempre acabavam na cama. Também me lembro dos nossos telefonemas, todos os dias, todas as horas, e de minha saudação matinal: "Bom dia Princesa!" Eu sempre achava você muito parecida com a Princesa Diana. Houveram momentos de intensa emoção e extrema felicidade, como no meu aniversário em vinte e cinco de novembro do ano 2000, onde fizemos uma comemoração especial.

Como posso esquecer aquela tarde de sexta feira em outubro de 1986, lá na rua oito. onde eu criei coragem e te convidei para sair, a primeira noite que saimos juntos e do nosso primeiro beijo! Também como foi bom nosso reencontro no Shopping Flamboyant após quatro anos, e o momento quase indescritivel daquela tarde que fomos ao cinema e reatamos nosso amor... A emoção pra mim foi tão forte, só comparável com nosso primeiro encontro lá na Vila Brasília.

Enfim, foram tantas as ocasiões, tantos os locais que é difícil recorda-los todos. Foram tantas idas e vindas, encontros e desencontros, esperanças e desiluisões, risos e lágrimas, desejos e orgasmos. Quantas vezes fizemos amor? Eu tive o capricho de contabilizar, mas foram N vezes. Com efeito, muitas vezes pronunciamos palavras que beijavam e fizemos beijos que falavam... A nossa briga mais feia foi naquele bar em forma de quiosque de palha lá no setor aeroporto que foi demolido por causa do acidente do Césio. E assim, com o auxílio das musas, registrei tudo em forma de versos... Nas madrugadas quentes de outono ou nas noites frescas de inverno, nos dias chovosos de dezembro e janeiro, aqui em Goiânia ou em Brasília na solidão do meu quarto, diante de uma folha de papel, surgiram màgicamente os mais lindos versos de amor...

Sei que sou um previlegiado pela inspiração e dom de escrever, e você, uma abençoada por ser a razão destes versos!

É como disse o poeta Vinícius de Morais: " Eu sei que vou te amar, em cada verso meu, por toda a minha vida... Eu sei que vou te amar."

Já Oscar Wilde disse: " O apaixonado começa enganando a sí mesmo e acaba enganando aos outros - É isto o que o mundo dá o nome de romantismo." Não foi o meu caso.

Quando me apaixonei por você, já sabia que não poderia haver engano, pois logo transformei isto em um amor tal, posto que nunca eu havia concebido antes... Ele disse também: "Que o mundo pode até perdoar um delinquente, mas jamais perdoa a um sonhador."

Confesso que por você, eu sempre fui um sonhador e um poeta romântico... E o mundo não me perdoou por isto! Oscar Wilder tinha razão. Talvez, fosse melhor eu demonstrar

esse amor de forma mais objetiva (como quer o mundo). Talvez não.

De qualquer forma foi melhor assim, pelo menos fui feliz enquanto durou e tornei você feliz enquanto nos amamos. Agora, seguiremos cada um seu caminho sem mágoa, e sem medo ou arrependimento. Fizemos a coisa certa? Não sei. Nunca saberemos.

Por que nunca vivemos juntos? Esse é um segredo dos deuses e somente a razão poderá responder esta pergunta que não deixa calar. Às vezes, corremos rumo ao arco-íris, buscamos um tesouro chamado felicidade, anoitecemos e amanhecemos diante desta fantasia... Diante desta fascinante utopia, o que contou mesmo foram os momentos felizes que vivenciamos juntos. E, são estes momentos que permanecerão vivos (não sei por quanto tempo) embora o deus Chronos nos acene sua terrível ampulheta com a areia que que cai... No plano Concreto descortina-se o crepúsculo de nosso amor. Mas, em cada verso que fiz pra você, cada sílaba, cada letra, algo demonstra que estas palavras pulsam, choram e sorriem, e que este meu amor por você será para sempre... Meus versos, desafiam o tempo! Eu não posso aceitar o esquecimento e o apagar de minha mente e meu coração desses momentos de prazer e felicidade que compartilhamos nesses quinze anos!

Esses versos, vão contar uma estória - A nossa estória. Para alguns que nos conheceram e compartilharam conosco esses momentos, poderão dizer assim: Esse amor nunca existiu desta forma. Foi uma brincadeira talvez. Mas, eu e você sabemos que não foi. Um dia, num futuro distante, daqui a centenas de anos, em outra dimensão ou mesmo neste planeta, em carne e ossos ou em outra matéria mais sutil, heveremos de nos encontrar. Vibraremos em cada átomo, bateremos em outros corações e, seremos sempre eternas almas gêmeas!

Hoje, você pode dizer que eu fui um sonhador ou um romântico apaixonado, tudo bem. Mas, quando a neve cair em seus cabelos, certamente você poderá entender, concordar comigo e suspirando dizer: Um dia, eu fui amada a bem amada de alguém que

me teve mas que nunca nos realizamos...

Álvaro Francisco Frazão.