Sonho
Perguntaram-me qual o meu maior sonho. E isso me fez ver o quanto essa pergunta é difícil de ser respondida na prática.
Percebi que apesar da minha tenra idade, já concretizei a maioria dos grandes desejos que eu sempre tive.
Houve épocas em que eu queria simplesmente ter uma casa confortável. Hoje não me falta nada na minha moradia. Houve momentos em que desejei ter um carro novo, o que já não é mais novidade para mim.
Sempre almejei cursar uma faculdade, e hoje sou professor universitário. Houve dias em que objetivei ter um trabalho digno e que eu me sentisse feliz, o que acontece atualmente. E houve ocasiões em que quis muito conhecer diversos países. Até o momento, já visitei dez.
Percebi então o quanto sou feliz... o quanto concretizei os meus sonhos muito antes do que eu imaginava...
Filosoficamente, posso dizer que o meu sonho é concretizar todos os sonhos do meu mestre, assim como ele mesmo fez com o seu próprio mestre. É a isso que tenho me dedicado diariamente. Tenho também um projeto de vida que é contribuir para a inauguração da Universidade Soka no Brasil.
Porém, há um único detalhe que me falta, me escorrega entre os dedos. Minha mãe mesma já me disse: “você já estudou, já tem um trabalho, já viajou, só falta agora encontrar uma pessoa...”. De fato. Falta-me o amor. Bastante coisa.
Rubem Alves escreveu o que desejaria se soubesse que seria o seu último ano de vida:
"Meu primeiro desejo seria amar e ser amado. Porque, como escreveu o Vinícius, para isso nascemos, para amar e ser amados. Quando se ama e se é amado, qualquer coisinha boba é motivo de alegria: um capim-gordura florido iluminado pela luz do sol; um copo de chá gelado num dia quente; um banho morno de chuveiro; passear num mercado de mãos dadas; ficar ensopado de chuva; um banho de cachoeira; um sanduíche de queijo...
E, ao contrário, se não se ama e não se é amado, o hotel mais luxuoso, o cenário mais lindo, o restaurante mais caro – tudo fica triste."
Será por isso que ando meio triste? Valorizo fortemente todos os meus sonhos concretizados, o que me deixa com o coração repleto de gratidão e alegria. Mas vejo que os sonhos vão mudando de tempos em tempos. Que precisamos sempre de sonhos novos. E que é isto que nos mantém vivos!
Portanto, meu “sonho atual” é encontrar o meu amor - amar e ser amado. Porque assim, como já disse antes, quero meu epitáfio como o de Álvaro de Azevedo: “Foi poeta, sonhou e amou na vida.”
(Catalão, 08/12/2010)