Priscila tem a boca cheia de dentes brancos. Faz questão de um sorriso largo.
A alvura de seus dentes se mistura com a da pele.
Ela é toda branca, branca como a neve. Seria Priscila a Branca de Neve?
Olhos e cabelos castanhos produzem um contraste simétrico, se isso for possível. Em Priscila é possível.
Inclusive ausência. Às vezes ela parece estar em outra órbita.
Tem um estrabismo quase imperceptível, o que a deixa com um ar de mistério.
Ela fala e sorri ao mesmo tempo, enquanto olha para lugar nenhum...
Usa roupa e sapatos brancos. Quando fala, as palavras são brancas.
Quando ela se debruça sobre mim, sinto seu hálito. Branco.
E quando seus dedos brancos e aveludados tocam minha boca, estremeço.
O coração dispara. Ela percebe e pede calma.
Aproveito um instante de distração, para observá-la: está séria, compenetrada. Inteiramente entregue...
Os lábios são levemente cor-de-rosa.
Imagino-a passeando em um imenso jardim de rosas brancas... Como identificar Priscila entre rosas?
Então vejo um sorriso esplêndido. É ela.
Fecho os olhos e deixo-a fazer o seu trabalho.
Saio do torpor quando ela diz “pronto, pode se levantar”, depois de jogar água em minha boca e ofertar um lenço branco.
Então ela marca nova consulta e diz convicta: “mais duas sessões e esse canal estará inteiramente curado”.
Minha homenagem aos profissionais da saúde bucal.