DESCONSIDERAÇÕES NADA GERAIS
(Justamente aos que não tem paciência de ler)
I
Depois do incêndio, o devido rescaldo
Identificar as coisas que sobram, difícil
Dois dias de férias e uma vontade de partir
Para a Lua ou para Marte, Vênus talvez...
Para os mesmos fingimentos de antes
Olha! Está tudo bem comigo, tudo ótimo!
E vamos aprendendo a fingir cada vez mais...
Agora, de mim, imagina
A fraqueza das palavras na força de um silêncio
Meus passeios até a sacada e a mesma paisagem
É noite sempre e sempre há de ser anoitecer
E nunca sei o que deixo de ser a deitar em palavras
Necessidade de sempre ter o que dizer, cala-te!
Sou somente este amontoado de palavras
Sim, essas que juntei com os cacos de tudo
Sou esses muitos pixels de algumas fotos
E enquanto o virtual grita tão mais alto
A realidade cheira a sangue, suor e merda
E dói...
E eu sou real
E sendo real sou tão pouco
Quem viu sabe e entende muito bem
Diga lá se não é verdade que sou nada
Se eu morrer dormindo numa segunda-feira
Levarão ainda dois domingos para me darem falta
Deixo um bilhete fincado no quadro de cortiça
“Faltou sempre quem me velasse o sono”
A palavra exata exala minha inexatidão
Parece que esperar é minha maior vocação
O quê? Qualquer coisa que nada valha e nem pensei
Que não sei, que cansa tanto saber tanto de tanto
E se me assola e sufoca saber o que vai ser
Não ser talvez, nem quero mais saber
Meu maior defeito é pensar
E qualquer reflexão me aproxima de uma inverdade
De verdade tenho os dedos sobre este teclado
Os olhos na direção de um infinito incompreensível
As mãos dançando na mesa atulhada de coisas
A boca ressecada de café e cigarros
E o corpo tão cansado de não querer ir dormir
A alma? Se a tivesse seria algo como que intocável
Assim, alma presa ao corpo, corpo preso ao chão
E um eu inteiro preso neste instante entre paredes
Numa solidão atroz com um jeito assim de prisão
II
Estas são as minhas miseráveis páginas
De pobres palavras de poemas os mais insossos
Entra e senta, deita e rola e vai embora
Deixa aqui as palavras serem só o que são
Porque eu era antes tão rico delas, tão rico
E elas me tornavam até alguma sensação
Eu era um tudo envolto nuns certos braços
Agora sou o monstro de novo, de novo horrível
Um que de desprezível (isso é incompreensível)
Não! É compreensível apenas no nível da decepção
Não sei o que fazer com esses dias que vem
Não sei vir com eles e seus instantes, penso
Creio que com o resto da vida é melhor desfazer
Desconstruir cada gesto e cada olhar
Destruir o que resta dos sonhos de ainda agora
Já de outrora deixar morrer a vã esperança
Esperança? Ah! Nem creio muito nela...
Apagar as palavras na vontade de calar
Quis rasgar desenhos outra vez
Mas eles imploraram para ficar
Deixo-os serem inúteis como de fato são
Tão inúteis como se tornaram as palavras
Cada palavra que me vem atiçar um velho fogo
A poesia é construir para depois incendiar
Nas cinzas das palavras é que vou me encontrar
Um outro que não diga, que não sinta, que não queira
Um outro que faz abismos para estar bem a sua beira
Um outro que não pense que isto aqui é ser poeta
Poeta! Poeta? Não, não e não. Não mesmo!
Um panfletário de emoções baratas...
Que pensam de mim? (às vezes penso isso...)
Depois não penso mais (pode ser que me digam...)
Melhor não dizer, sou feito para esquecer...
III
“Os deuses são infelizes porque são imortais...”
E as lembranças me infestam a mente (como baratas)
E se eu mato uma sempre vem mais duas ou três
Mais um cigarro na varanda, sempre noite em meus olhos
Um céu escuro por trás de alguma luz acesa nos prédios
A rua quieta e deserta, o parque sem gente nenhuma
Gritam ao longe os cães algum recado para mim?
Para mim a vida pode não passar mesmo disso
De pensamentos que se perdem entre uivos de cães
E quem é que presta atenção no que ladram os cães?
Por isso o latido desses versos que nem mesmo queria
Essa poesia vadia que não alcança ninguém
Quando sai de mim agora mais me esvazia
Por isso não mais queria assim escrever
Tudo aquilo que eu deveria estar a sentir
Não peço muito...
Peço que sintam
Para pedir que não mintam
Ah! madrugada que avança
Deixa eu amanhecer ainda mais um dia
Porque eu ainda nada pedi
Então peço agora que mintam
E no amanhecer de mais este dia
Não me sintam...
(Justamente aos que não tem paciência de ler)
I
Depois do incêndio, o devido rescaldo
Identificar as coisas que sobram, difícil
Dois dias de férias e uma vontade de partir
Para a Lua ou para Marte, Vênus talvez...
Para os mesmos fingimentos de antes
Olha! Está tudo bem comigo, tudo ótimo!
E vamos aprendendo a fingir cada vez mais...
Agora, de mim, imagina
A fraqueza das palavras na força de um silêncio
Meus passeios até a sacada e a mesma paisagem
É noite sempre e sempre há de ser anoitecer
E nunca sei o que deixo de ser a deitar em palavras
Necessidade de sempre ter o que dizer, cala-te!
Sou somente este amontoado de palavras
Sim, essas que juntei com os cacos de tudo
Sou esses muitos pixels de algumas fotos
E enquanto o virtual grita tão mais alto
A realidade cheira a sangue, suor e merda
E dói...
E eu sou real
E sendo real sou tão pouco
Quem viu sabe e entende muito bem
Diga lá se não é verdade que sou nada
Se eu morrer dormindo numa segunda-feira
Levarão ainda dois domingos para me darem falta
Deixo um bilhete fincado no quadro de cortiça
“Faltou sempre quem me velasse o sono”
A palavra exata exala minha inexatidão
Parece que esperar é minha maior vocação
O quê? Qualquer coisa que nada valha e nem pensei
Que não sei, que cansa tanto saber tanto de tanto
E se me assola e sufoca saber o que vai ser
Não ser talvez, nem quero mais saber
Meu maior defeito é pensar
E qualquer reflexão me aproxima de uma inverdade
De verdade tenho os dedos sobre este teclado
Os olhos na direção de um infinito incompreensível
As mãos dançando na mesa atulhada de coisas
A boca ressecada de café e cigarros
E o corpo tão cansado de não querer ir dormir
A alma? Se a tivesse seria algo como que intocável
Assim, alma presa ao corpo, corpo preso ao chão
E um eu inteiro preso neste instante entre paredes
Numa solidão atroz com um jeito assim de prisão
II
Estas são as minhas miseráveis páginas
De pobres palavras de poemas os mais insossos
Entra e senta, deita e rola e vai embora
Deixa aqui as palavras serem só o que são
Porque eu era antes tão rico delas, tão rico
E elas me tornavam até alguma sensação
Eu era um tudo envolto nuns certos braços
Agora sou o monstro de novo, de novo horrível
Um que de desprezível (isso é incompreensível)
Não! É compreensível apenas no nível da decepção
Não sei o que fazer com esses dias que vem
Não sei vir com eles e seus instantes, penso
Creio que com o resto da vida é melhor desfazer
Desconstruir cada gesto e cada olhar
Destruir o que resta dos sonhos de ainda agora
Já de outrora deixar morrer a vã esperança
Esperança? Ah! Nem creio muito nela...
Apagar as palavras na vontade de calar
Quis rasgar desenhos outra vez
Mas eles imploraram para ficar
Deixo-os serem inúteis como de fato são
Tão inúteis como se tornaram as palavras
Cada palavra que me vem atiçar um velho fogo
A poesia é construir para depois incendiar
Nas cinzas das palavras é que vou me encontrar
Um outro que não diga, que não sinta, que não queira
Um outro que faz abismos para estar bem a sua beira
Um outro que não pense que isto aqui é ser poeta
Poeta! Poeta? Não, não e não. Não mesmo!
Um panfletário de emoções baratas...
Que pensam de mim? (às vezes penso isso...)
Depois não penso mais (pode ser que me digam...)
Melhor não dizer, sou feito para esquecer...
III
“Os deuses são infelizes porque são imortais...”
E as lembranças me infestam a mente (como baratas)
E se eu mato uma sempre vem mais duas ou três
Mais um cigarro na varanda, sempre noite em meus olhos
Um céu escuro por trás de alguma luz acesa nos prédios
A rua quieta e deserta, o parque sem gente nenhuma
Gritam ao longe os cães algum recado para mim?
Para mim a vida pode não passar mesmo disso
De pensamentos que se perdem entre uivos de cães
E quem é que presta atenção no que ladram os cães?
Por isso o latido desses versos que nem mesmo queria
Essa poesia vadia que não alcança ninguém
Quando sai de mim agora mais me esvazia
Por isso não mais queria assim escrever
Tudo aquilo que eu deveria estar a sentir
Não peço muito...
Peço que sintam
Para pedir que não mintam
Ah! madrugada que avança
Deixa eu amanhecer ainda mais um dia
Porque eu ainda nada pedi
Então peço agora que mintam
E no amanhecer de mais este dia
Não me sintam...