É assim? Será?

O caldeirão da cozinha do inferno ferveu durante o dia e transbordou hoje à noite , trazendo consigo o odor da podridão.

Os rostos contorciam-se pelo olfato incomodado, as pessoas borbulhavam, transpiravam, as mãos tocavam os rostos em desespero... até que o alívio veio do céu em gotas frescas de água e fumaça.

Não foi dessa vez que tudo se incendiou... apenas a alma continua com uma brasa acesa nela, ardendo, mas nenhuma bunda serviu de arrimo ao desespero de um cacete mal amado de meia vida.

As latas cheiravam mal, cheiravam gente cozida em molho de sal e ácido úrico, as roupas úmidas, os cabelos crespos pingando creme, pés imersos em esgoto...tudo incomodava e ofuscava o brilho dos olhos verdes que buscavam alguém no meio da podridão, alguém que nunca está ali, que não cabe no cenário de horror do caldeirão.

Todos os que carregam o luto no corpo e a guerra nos pés atraem os olhos verdes, hoje pintados de negro como as unhas, por mais de uma vez, porque é assim que ela o imagina... O relance engana e frustra a alma, mas ela persiste e insiste em encontrar... e continua se frustrando porque ele nunca estará lá. Não como a alma o quer.

Olhares se cruzam, bocas proferem obscenidades à ela, e a alma segue seu caminho em busca de salvação

Isabel Cristina Oller
Enviado por Isabel Cristina Oller em 07/12/2010
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