Até quando?
Até quando vamos ficar sangrando por feridas que jorram sofrimento e solidão?
Vamos chorar lágrimas que não são nossas,
que se confundem com sangue
e quem as provocam são nossos próprios irmãos
Ate quando vamos enterrar nossa esperança
e lacrar o que não se tem mais valor?
Passar por cima da ética, sorrindo de outra dor
Vamos magoar quem nos ama e proteger quem condena
Fortalecer o império mais derrubar como torre gêmea
Vamos excluir os desfavorecidos
e zombar das suas deformidades
Poluir o quintal do outro e limpar o nosso com hipocridade
Lutar com luvas de ferro
contra alguém com queixo de vidro
A desculpa só no medo e o medo só na culpa
Ficar com o que se foi perdido
Comer a lavagem que nos ordenam e chacotear os que têm fome. Atuar roubando a cena
o protagonista o próprio homem.
Levantar a voz pra quem mais nos ama.
Abusando de que menos pode.
Extraindo leite negro de uma mama
ensacando e vendendo em lote.
Vender céu, vender terra
Vender filho, vender pedra
Barganhar uma vida em troca de papel
Escravizar a abelha
e vender pra ela seu próprio mel
Lembrar de alguém somente em datas.
Deslumbrar de glória
por elogios que com o tempo são modificados
Minha raça vira-lata
Meu pedigree adulterado
Nem mesmo a água pureza me passa
Nem mesmo o céu infinito vejo
Em nosso corpo a peste se alastra
O sexo começa pela mão e não mais pelo beijo
Os bens avaliados valem mais que uma vida
Qualquer nota logo se nota
mostrando ao preso uma saída
Que bom seria se mostrasse a ele a saída do pecado
Até quando meu Deus
vamos achar que estamos vivos?
Se já estamos enterrados.
Luís Augusto Moura