O poema, o poeta e o verso
[procure algo na despensa. Ache. Dispense]
(pense algo pra dizer pra ela. despense)
[o poema ainda não começou. impaciente-se]
{recite como que possesso pelo vento}
Agora
<começo_do_poema>
O poeta é o veneno em pó.
Macarrão instantâneo de sentimentos,
Misto quente de agruras
O poema é uma salada de flores
Ou de fedores, calores...
O poema é a recusa do não ser bem.
O poema é a chegada do nada. [rufe tambores, ouça-os.]
E o poeta, ele sim
É um compacto de ausências
Um long play de tristezas
Ou de felicidades...
Um filme de não-acontecimentos
Banquete de desejos.
(...) [pausa. coe café. beba.]
O verso é o mofo, o encardido.
O ao avesso...
A crosta de sujeira na panela,
A fuligem.
[deteste o poeta a gosto. regurgite o poema. descarte o verso.]
(tempere o ódio)
O poema, o poeta e o verso
São um prato de carne mal passada
mal comida
mal amada
Maldita.
Você ainda gosta de poesia?
Tem certeza?
{se arrependa.}
</fim_do_poema>