O NASCIMENTO
Quem, dentro de nós, resolve que este ou aquele e só este ou aquele entrará em nossas vidas pra ficar? E em que momento decide que tal ventura ou infortúnio acontecerá?
Se tudo vem de uma semente, onde estava a semente que em nós é plantada, de repente? E dessa semente que alguém planta quem, dentro de nós, garante que esta ou aquela vingará?
Quem, dentro de nós, sugere, escolhe, decide e às vezes até impõe: este sim, este não.
O nascimento, o surgimento, o instante mágico do brotar...
Amizades, amores, ódios, invejas, temores, todos começam por um gesto, um sorriso, um olhar. E todos terminam, mais cedo ou mais tarde, também por um gesto, um olhar, um sorriso. Mas quem, quem, dentro de nós, decide que é hora de chegar ou de partir? Quem, dentro de nós, decide quem entra ou quem sai dos nossos corações?
Entre a intenção e a ação anos talvez se passem e talvez nunca se concretize o ato que se desejou, mas quem, dentro de nós, desejou o ato? Em que momento o desejo foi concebido e nem ao menos fomos alertados? Quem, dentro de nós, quis?
Quase nunca se sabe no ato desde quando houve o desejo, mas às vezes, num repente, se vislumbra todo o futuro e nos vemos nele e ao outro, juntos. E o estranho se torna íntimo. E o íntimo vital. Mas onde estava aquele, dentro de nós, que cortou o fio do nosso escudo umbilical?