COM SENTIMENTO
Estou aqui no computador e escuto um barulho lá fora,
vou ver o que é; parece que alguém mexe no jardim,
ouço o barulho da corrente que separa a calçada da en-
trada...
Abro a janelinha da porta e vejo uma mulher que já conhe-
ço, já a ajudei algumas vezes...ela então se assusta, está
terminando de roubar uma rosa do meu jardim, era a única
que havia nesta manhã chuvosa...em sua mão há também
uma hortênsia azul que também havia roubado.
Ela me pede desculpas, diz que gostava muito de rosas,
que ia levá-las para enfeitar a casa...diz que está grávi-
da, dele...e mostra o seu companheiro que está mais
para o lado; diz que o bebê vai nascer em março e que
quer um dinheiro para comprar leite...
Eu digo a ela que as flores são para eles mesmo, que não
tem importância...Vejo a situação deles, ele um pouco bebado,
ela muito magra...Lembro-me de dois poemas que fiz: Cúmplice
e Caso de ciúme, em que falo no roubo de uma rosa e de uma
linda hortênsia, retirados em dias diferentes de meu jardim...
Penso, que diante de tamanha pobreza e dificuldade de vida
minhas flores nas mãos dela podem ser uma oferenda...
Vou buscar um litro de leite...entrego a ela, peço para que
volte em fevereiro, quando voltamos a trabalhar no rou-
peiro, para ela ir até onde costuramos e se cadastrar lá e
fazer o curso de gestantes para depois ganhar o enxoval
para seu bebê...
Ela me olha, me escuta e percebo seus olhos cheios de lá-
grimas...
Então ela coloca a corrente do jardim no lugar, segura
as flores, se desculpa novamente por tê-las pego e segue..
Eu fecho a janelinha....e volto aqui para o computador...
Que bom poder ter este jardim....em flor!