Meus cárceres

Meus cárceres

Venho de tantas eras idas, montanhas inundadas de mar...e resquícios de outras civilizações.

E entre um gole e outro de insônia, entre sonhos e pesadelos cato papeis em rolos de papiros que contavam histórias. Reconheço-me na imagem daquela antiga espada e vejo meus pés iluminados por fogueiras... Sujos... De carvão de antigas fugas... Enquanto escuto o trotar dos negros animais de crinas longas...

Vestidos arrastam-se pelos chãos de pedra, homens bárbaros... Cheiro de carne assando por entre os veios nus das terras, animais amarrados e soltos... e um céu repleto de águias amigas.

Já ouvi ao beijar a boca da insônia, numa linda noite de lua cheia, um som estranho de um instrumento de cordas, apenas vi as mãos... Morenas de alguém que o dedilhava, o som chorava uma saudade incerta... E vi algo azul, parecia um tecido a voar...

Perfumes exóticos tomavam-me os pulmões eu era daquele lugar... Sentia que minha alma ali, era pura essência... E sentada na areia... Meu peito pulsava gritos e silêncios.

Eu esperava alguém, e este alguém não tinha sexo nem face, cara nem rito...não corria em suas veias o sangue daquele clã...e a ignorância abissal dos mestres o queriam morto.

Minhas angustias voavam ao som daquela musica e eu me permitia adormecer, abraçada ao vento frio do deserto...

Até hoje reconheço aquelas rochas... E em outras tantas noites...

Eu via outras viagens... Frio, gelo, desolação...

Um mar azul que espancava as rochas, e o som de gaivotas solitárias... Escócia, talvez...

Sons ecoavam em minha mente presa aquelas paredes frias e cinzas... Tilintar de taças... Risos altos e graves...gritos, me parece que faziam amor com a vida...e eram amantes da morte...não temiam a lâmina, nem o derramar do sangue, e tinham certamente nos olhos, um ver de eternidade...eu fazia parte daquilo, como se assistisse a um filme...

É, nessas noites de lua cheia... Certamente ouço uivos de um passado abrasador...

Dor e amor, nas mesmas teias e veias de minha memória longínqua...

Revestida de calma hoje, por me saber mais profunda que o mar...

Que ainda bate sem parar... Nas minhas rochas de vida.

Márcia Poesia de Sá

Márcia Poesia de Sá
Enviado por Márcia Poesia de Sá em 30/11/2010
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