PALAVRAS EFÊMERAS

PALAVRAS EFÊMERAS

Parecia de guerra aquele som, ecoava em meus tímpanos o tom da glória que parecia chamar...

Glória da guerra da arma armada

Da cruz levantada do salto febril

Da horda formada de cunho hostil

Em manto de sangue já é deflorada

E entoavam os guerreiros a canção de ninar, cai os mortais e permanecem os aflitos, como se os olhos viessem a dizer adeus.

Adeus minha terra de antes daqui

Adeus minha gente que tanto sofreu

Deixei esta casa, esqueci o que é meu

Para então voltar ao lugar de onde eu vim

Que simples passadas em direção a algures, os passos pesam, as mãos ficam suadas e parece mesmo que não há uma estratégia eficaz, que nos leve à glória... E foi-se mais um guerreiro.

Guerreiro infeliz que encarou o destino

Embainhou sua espada e viu-se caindo

De fraqueza em fraqueza foi-se esvaindo

Encontrando no fim apenas o zunido

Lembrei-me da cruz sacrossanta, que estampada no peito carregava, significando bem mais que um símbolo, bem mais que uma idéia... Terá sido em vão? Ou apenas não consegui enxergar o verdadeiro significado do prostrar-se, do render-se, do entregar-se até os confins para que de fato eu encontre um destino seguro.

Destino incerto estampado em panos

Caminhos escuros onde não há retorno

Parecem longínquos os traços em torno

Da áurea celeste das cores em trapos

O céu escurece. Os dardos em flechas enegrecem o firmamento, escudos foram postos em posição, prontos para protegerem aquilo que chamam de corpo. Ficamos apenas sem saber como ficarão as tábuas de carne que palpitam em nosso peito depois que tudo isso acabar... Sinto-me inerte como as folhas secas perdem sua força e caem vertiginosamente atraídas ao solo vermelho, vermelho de sangue carmesim.

Gotas escorrem, e sujam os tecidos

Ao gosto requer simplesmente o som

Dos corpos velados, cobertos ao tom

De púrpura tão forte, tão cor de feridos

Alimentam-se os mortais de esperança, esperam ver logo o que lhes aguarda... Antes, paramos em frente ao Vale de Geena e deparamos com um cenário um tanto quanto sombrio. Tinha cor de pavor aquela pintura, as mãos do artista pareciam estar trêmulas...

Tocava o pincel a tela e não mais se via a cor do sol, chovia...

Trovejam os céus, e uivam os lobos

Lamentam os homens, fracos meninos

Choram as viúvas, perderam os sentidos

Contam histórias, que não mais tem donos

Perguntei as estrelas se havia algo mais além, as imagens grotescas daquele vale ainda assombram meus sonhos. Passamos por ali, e parece que os fantasmas ainda buscam almas para recolher e enterrar no lugar dos mortos. Continuamos... mais um dia havia passado e sentimos de novo a brisa da alvorada, lembramos o quanto belo os raios de sol, tímidos, amarelos... Ainda falta mais uma batalha. Já me sinto sem forças, já me vejo sem fôlego, os joelhos tremem e o escudo já pesa a alma, a espada já não parece tão longa e consigo ver a fúria na íris de cada inimigo.

De punhos cansados escrevo o final

D’último passo para encontrar convosco

Sinto o vento chamar, serei mais um louco

Em crise deixei mais grito, escolha mortal

Se as palavras aqui escritas estiverem sendo lidas por alguém, talvez eu não seja mais de carne, talvez só tenha sobrado de mim a memória, a lembrança de um guerreiro que permanece imortal, que o único desejo é que seja perpetuada uma história de gigantes gloriosos que lutaram por sua liberdade e alcançaram o patamar de deuses.

Aaron Maroja
Enviado por Aaron Maroja em 28/11/2010
Código do texto: T2641660