Juizo Final
Do alto do morro homens fortemente armados
controlam o tráfico e o destino dos mais fracos.
Lá embaixo no asfalto, brincando de roleta russa,
um jovem estudante de classe média alta
será enterrado na segunda pela manhã.
Já sem nenhuma esperança, uma mãe desesperada,
implora a Deus para que lhe de a oportunidade de ser
a próxima vítima de uma bala completamente perdida.
Homens enfeitados de terno e gravata de cetim
arrotam arrogância em volta de uma enorme mesa
onde fartam-se de champanhe e risadas grotescas.
Em uma favela, próximo a esse bordel intelectual,
um corpo quase sem vida apodrece lentamente
sentado em uma bacia de uma privada fedorenta.
Pelo vidro embaçado de uma janela semi-aberta
uma criança inocente vislumbra por entre as nuvens
a luz tênue que desce mansamente das alturas
pairando quase rente aos vertiginosos arranha céus.
São os olhos mansos de Deus que nos contemplam
num misto de desapontamento e suprema piedade.
É chegado o momento do ajuste de contas!
A separação implacável do Joio e do Trigo!
São os prenúncios inevitáveis do apocalipse!
Uma multidão enorme de céticos e pecadores hipócritas
prostram-se de joelhos clamando por piedade!
Foda-se... é chegado, finalmente, o dia do juízo final!