AMOR COM FIM
Então, quando se apaixonou dissera: Louco o que és! Mas na verdade não o era. Corroeu-lhe as
Entranhas, como vício. Machucava-o a cada alegria. Um absurdo! Insinuavam os boatos.
Teimoso e obstinado, não ligou, nem dera conta do que diziam. Vivia por ela. Por ela
Morreria. Renasceria das cinzas, se preciso fosse, só para tê-la ao alcance de suas carnes.
Seu grande amor era cego e inócuo. Não havia maldade nos seus desejos. Apenas amor.
Um dia fora encontrado desfalecido e já quase tão branco como um fantasma.
Estava sentado, cabeça recostada à escrivaninha, com um papel rasgado e amassado entre os dedos. Que teria acontecido com ele?
Se perguntavam os mais incautos.
Dias após soube-se que seu coração fora vítima de um golpe fatal. Nem assassinato,
Nem ataque do miocárdio. Fora suicídio! Soube-se mais tarde o que o motivara a tanto. Fora o amor.
Ele a amava tanto que não suportaria, vendo-a nos braços de outro. Mas de fato logo ela, singela e ingênua, era na verdade uma faca de dois gumes.
Um, o pegara distraído e penetrara suas entranhas e seu único refúgio fora a cicuta.
Suicidara-se.