AMOR COM FIM

Então, quando se apaixonou dissera: Louco o que és! Mas na verdade não o era. Corroeu-lhe as

Entranhas, como vício. Machucava-o a cada alegria. Um absurdo! Insinuavam os boatos.

Teimoso e obstinado, não ligou, nem dera conta do que diziam. Vivia por ela. Por ela

Morreria. Renasceria das cinzas, se preciso fosse, só para tê-la ao alcance de suas carnes.

Seu grande amor era cego e inócuo. Não havia maldade nos seus desejos. Apenas amor.

Um dia fora encontrado desfalecido e já quase tão branco como um fantasma.

Estava sentado, cabeça recostada à escrivaninha, com um papel rasgado e amassado entre os dedos. Que teria acontecido com ele?

Se perguntavam os mais incautos.

Dias após soube-se que seu coração fora vítima de um golpe fatal. Nem assassinato,

Nem ataque do miocárdio. Fora suicídio! Soube-se mais tarde o que o motivara a tanto. Fora o amor.

Ele a amava tanto que não suportaria, vendo-a nos braços de outro. Mas de fato logo ela, singela e ingênua, era na verdade uma faca de dois gumes.

Um, o pegara distraído e penetrara suas entranhas e seu único refúgio fora a cicuta.

Suicidara-se.

Gláucio Ramm e Silva
Enviado por Gláucio Ramm e Silva em 22/11/2010
Código do texto: T2631084
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