O GUARDIÃO
À medida que as décadas passam sinto, cada vez de forma mais nítida, que o teu grande rival, aquele que foi meu companheiro de jornada por quase 18 anos é, para além de ente de estirpe irmã da tua, também o guardião que nos veio, sem ele mesmo sabê-lo, por necessidade cósmica, com a função de restabelecer, ainda que à custa dos sofrimentos inenarráveis na alma, na carne, nas vidas, os sofrimentos que sabemos, estes sofrimentos que jamais nos abandonam, enfim, o ser que nos veio para restabelecer um equilíbrio perdido sabe-se lá em que Tempo. Ele, o guardião, veio para nos obrigar ao resgate de outros - teus e meus - compromissos sagrados. São as contas ligadas no fio de um enorme colar quase só de Mistérios alguns dos quais - é terrível admiti-lo - certamente nos permanecerão insondáveis ao longo do Tempo que não existe.
Esta é uma das leituras que faço do Abismo; eu a teci, a esta leitura dos fatos ( plausível como outras) para não enlouquecer, para não enlouquecer, meu Amigo. E sigo ao longo dessas enigmáticas escritas que, espero, possam de certo modo servir a outros que não apenas a nós, que a todos e a cada um cabe a sua cota própria de Mistérios. Que estes meus textos lhes tenha, a estes leitores, a função de espelho provisório; que, quem sabe, lhes possa ser de alguma utilidade simbólica, que utilidade prática não cabe, a esses textos, utilidade nenhuma.
Zuleika dos Reis, na noite de 22 de novembro de 2010.