Vou ao Porto. Sentarei á mesa do poeta sem pernas e me embriagarei de vinho e poemas quebrados. Quebrados versos que cantam flores de seu jardim. Cantam sua amada eternamente vestida de pétalas de margaridas, exalando odores pecaminosos por toda a cercania.
E como trocaremos poemas... versos encantados, cantados em prosa ao pé do ouvido. E como confidenciaremos os mais escabrosos casos de amor não resolvidos e perdidos nas estradas da vida ou no vai e vem do mar. Amor vai, amor vem... Choraremos juntos e juntos amargaremos as despedidas e bendiremos as chegadas. Cantaremos em versos o amor que chega de mansinho como nada quer, mas que ao apear, acorrenta, solidifica-se, vira rocha, até que a primeira enchurrada o leve. E, mais uma vez, os poetas padecerão de solidão.
Vou ao Porto. Porto-rio, Porto-mar, mistura de doce e sal, rio e mar. Vou ao Porto para lá ficar. E, quando anoitecer, quando a água enegrecer, entrarei em transe poético ao apitar do navio que caminha lento em nossa direção. Seu olho gigante encanta, me envolve numa teia, me aprisiona. O apito, é um grito, um apelo, uma chamada que nos paraliza. Seu farfalhar na água do rio-mar nos amedronta e nos encanta. E um desejo suicida nos invade. Sermos engolidos pelo navio que vem...vem...vem... Indiferente ao perigo, meu companheiro continua a poetar na sua cadeira de rodas que nunca o impediu de voar nas asas da imaginação.
O vinho, na taça esvazia. Outro se segue, e outros virão... Sou as pernas que a meu poeta faltam, e juntos aguardamos o encontro triunfal de poetas, polpa, farol e trevas, vida e morte.
E, dois poetas, com duas pernas jogarão das núvens poemas a todos que forem ao bar do poeta sem pernas.
Nota: O Bar do Poeta fica em Cabedelo, Paraíba.