O NONAGÉSIMO

Pensei em escrever algo para completar o meu nonagésimo texto do Recanto

NONAGÉSIMO!

gosto do som

NONAGÉSIMO

por si só parece uma palavra que se comemora

(mais do que centésimo)

passadas as constatações sonoras

percebi também que o dia está lindo,

é um sábado de manhã limpa, fresca e de pouco barulho

– sim senhor, é um sábado quase domingo no parque –

da cama saltei madrugadinhando com mangueira na calçada,

fiz pose de prendada e o cantinho do cachorro está com brilho e lavanda –

a sexta de ontem foi-se na ventania de ontem, das visitas aos amigos, restou gozo e passarinho na janela

(nonagésimo texto, leitor, nonagésimo)

não é mesmo boa a palavra nonagésimo?

Assim na pergunta me soa ainda mais nonagésimo

E mais nela me deito!

acho que nunca fiz nada pela nonagésima vez

(sempre mais ou menos)

nem fiquei classificada em nonagésimo lugar em nada

(sempre menos ou mais)

e o meu cachorro espera o desjejum

(não conceba como grosseria referir-me a ele assim, não é falta de carinho – também gosto da palavra CACHORRO)

Faz 10 minutos que o NONAGÉSIMO prendeu-me aqui

E a vida correndo cá do lado,

Aliás, e a sua vida aí? Boa, mediana, tranquilinha, vagarosa, solitária, alucinada? (me ocorreu agora perguntar-te: Por que você leitor com coisas tão mais vitais a fazer, parou aqui, como eu?)

Vai ver Machado de Assis tem razão: “a literatura é a prova de que a vida não basta”

Vai ver, o seu pensamento também foge do convívio comum e estais aqui a desejar um gole do que te falta aí!

Restaram-nos as palavras

(quaisquer ou eleita)

A minha, voltemos, é NONAGÉSIMA!

E do borbulhar de palavras que champagnham em mim entrego ao meu recanto o NONAGÉSIMO

Inaugurando minha nova era

Sem culpas

Sem arrependimentos

Sem promessas

Perdoadamente renovada

Nova renova

Sempre que necessário,

Mas um dia de cada vez

(Objetivo?)

Chegar a ser NONAGENÁRIA!

Juliana Canezim
Enviado por Juliana Canezim em 20/11/2010
Código do texto: T2626803
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