QUANDO ESCREVO
As letras brotam no papel e na tela e se imiscuem entre os pelos do corpo da mulher amada, ocupam espaços e contornam saliências. Não posso escrever sem pensar e nem pensar sem escrever. A matemática quer roubar-me os X e Y, mas me defendo e digo "Yes" à musa enquanto "Xingo" um intrometimento preconceituoso de alguém que não entende na literatura do passado e do presente.
As letras pintam as folhas de desenhos de poesia em formas de seios e umbigo e despem as vestes que tentam atrapalhar o prazer na hora do amor. Então censuro os perversos que veem maldades na poesia e nas crônicas, enquanto também querem condenar os romances nas novelas e os contos de final de tarde, quando o sol ainda arde nas tábuas do alpendre.
Sou obrigado a dar um chega pra lá em propagandas eleitorais sem sentido e em anúncios de perfumes que exploram as imagens das rosas de onde nenhuma essência extraíram, somente para vender seus frutos oriundos da gordura de um remoto dinossauro. Então não sobra mais tempo para divagar, pois a tela avisa que a bateria terminou por falta de energia, causada pelo temporal que ignorei, de tão absorto ter sido meu estado.
Quando escrevo minhas percepções já aconteceram. A alma se lava e todas as lágrimas viram sinais no lenço com que as enxugo. O coração continua batendo enquanto a razão se prepara para abocanhar as novidades trazidas pelo vento pós-chuvas.