Tudo isto é Fado!

Fado:

a canção de Portugal, cantada pela alma e pelo sentimento dos portugueses.

O Fado é o estilo musical tradicional português. Geralmente é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por uma guitarra clássica (no meio fadista denominada viola) e uma guitarra portuguesa.

A palavra Fado vem do latim fatum, ou seja, "destino". Diz-se que é fado dos portugueses cantar o Fado. Fado é afinal aquilo que é fatal, o que necessariamente tem de acontecer.

O Fado está para o fadista como a poesia está para o poeta. Cantar o Fado, é cantar o lhe vai na alma, o amor e a paixão que lhe vai no sangue.

Se há experiências que nos deixam a braços com o lado desconhecido, secreto e autêntico da vida, o Fado é uma delas. Só o compreende quem, mais do que o ouvir, já o escutou ou cantou, num dos poucos templos do seu culto autêntico, as casas de Fado. Depois de ouvir o trinar de uma guitarra, o arrebatamento perfilado do(a) fadista, o trinar da guitarra e os corações que, silenciosos o escutam, na penumbra, sente-se um arrepio da medula ao encontro dos sentimentos. E fica a voz, uma voz dorida que sai das entranhas como a flama de um lume que a tudo consome.

Fado é o que faz quem puxa pela voz quando sente vontade de puxar da pistola. Quem ou quem apenas quer chorar perdidamente num ombro de alguém e não pode, então, canta o Fado.

Origens:

Diz-se que, com os descobrimentos, os portugueses deixaram em Portugal a saudade, o amor, a memória e a tristeza. Levaram para o Brasil a esperança, o desejo e a alegria.

O Fado é, de fato, a canção popular portuguesa, mas parece ser origem brasileira. Quando a corte portuguesa se estabeleceu no Brasil, em 1808, os nobres gostaram muito do lundu brasileiro. De volta a Portugal, os nobres e músicos lusitanos deram ao lundu, com algumas modificações, o nome de Fado, como é conhecido hoje.

A tese é defendida por ninguém menos que Câmara Cascudo, em entrevista à revista Manchete (nº 619, de 29/02/1964):

“Veja você se não é curioso: o desafio, que é português, vem pro Brasil e se torna popular, e o Fado, que é eminentemente brasileiro, se torna canção nacional em Portugal. Os portugueses que voltaram com D. João VI é que levaram o Fado.”

E Mário de Andrade foi mais longe, em sua “Pequena História da Música”, esclarecendo que, nascendo no Brasil, a partir do lundu de origem africana, o Fado foi levado para Portugal por marinheiros, sendo introduzido pouco a pouco nos bairros típicos da cidade de Lisboa.

A Enciclopédia Luso-Brasileira reconhece a origem brasileira do ritmo nacional português. Discute-se se o Fado chegou via marinheiros ou estudantes, assim como as influências da cultura árabe e das canções medievais. Possivelmente, tendo como matriz o lundu, a canção surgida no Rio de Janeiro incorporou em Portugal aqueles outros elementos, até tomar a configuração atual, marcada pelo lirismo, pelo sentimento da saudade, pelo canto vocal e forte participação da guitarra portuguesa.

Se foi levado a Portugal pela corte portuguesa retornada, por estudantes brasileiros em Lisboa ou por marinheiros saudosos – é objeto de controvérsias, mas a origem brasileira parece patente, com as misturas que, em Lisboa e Coimbra, lhes foram acrescentadas, dando-lhe o tempero especificamente lusitano e regional.

Surgido na primeira metade do século passado, depressa se tornou na canção popular de Lisboa e desde então foi tomando a imagem de quem o cantou.

Amália Rodrigues deu a voz e a alma a poesias e textos de escritores portugueses e tornou o Fado conhecido em todo mundo. Francisco José foi um dos fadistas portugueses mais populares e queridos no mundo inteiro. Cantores como Carlos do Carmo, Ana Moura e Mariza, a mais recente revelação, são a continuidade dessas referências e ao mesmo tempo uma nova forma de cantar o Fado.

O Fado não é apenas uma canção acompanhada à guitarra. É a própria alma do povo português. Ouvindo as palavras de cada canção, de cada Fado pode sentir-se a presença do mar, a vida dos marinheiros e pescadores, as gaivotas, as ruelas e becos de Lisboa, as despedidas, a terra , a Pátria, o infortúnio, os desgostos de amor, a traição, a tristeza, a morte, a saudade...

Há muitas maneiras de o cantar. Pode ser o Fado da Mouraria, o Fado Corrido, à desgarrada ou dos estudantes de Coimbra, que cantam o fado como se fosse uma balada. A companheira do Fado é a guitarra portuguesa. Juntos, Fado e guitarra, contam a essência do povo.

Fado de Lisboa

É cantado tipicamente na parte mais antiga da cidade, em tabernas ou casas de Fado, pequenas e antigas onde as paredes estão decoradas com os símbolos daquela forma de canção: o xaile negro e a guitarra portuguesa. É cantado tanto por homens como mulheres.

As melhores casas encontram-se nos bairros típicos de Alfama, Mouraria, Bairro Alto e Madragoa, seus autênticos berços. Tem como característica fundamental o cantar com tristeza e com sentimento mágoas passadas e presentes, mas também pode contar uma história divertida e com ironia.

Este modo de cantar espelha o espírito do povo lisboeta: a crença no destino como algo definido à priori e ao qual não podemos escapar, o domínio da alma e do coração sobre a razão, que levam a actos de paixão e desespero e que se traduzem num lamento tão negro quanto belo.

Por esta razão, ouvir o Fado é conhecer Lisboa. É também conhecer os portugueses, no mais profundo sentimento de um povo que enfrentou o mar desconhecido para dar a conhecer novos mundos ao mundo.

Fado de Coimbra

Na segunda metade do séc. XIX, o Fado foi levado para Coimbra por estudantes de Lisboa.

Em Coimbra, teve, desde sempre um estilo mais elevado e romântico, a que não será estranho o fato da cidade possuir desde 1290, uma notável comunidade estudantil universitária.

Coimbra, ao contrário de Lisboa, não possui porto e terá sido a sua posição geográfica que, em conjunto com uma forte tradição cultural de origem monástica e universitária, terá decididamente contribuído para a forma específica do Fado de Coimbra.

O uso da guitarra portuguesa em Coimbra, originou uma prática instrumental muito rica que a tornou num instrumento único na música popular de expressão urbana.

Para isso, muito contribuiram, Artur Paredes e o seu filho Carlos Paredes que se podem considerar como os grandes responsáveis pela evolução da guitarra em Coimbra.

Carlos Paredes criou novas melodias e tornou a guitarra portuguesa num instrumento de concerto, tocando com músicos de jazz tal como Charlie Haden, entre outros.

O Fado tradicional de Coimbra, está muito ligado às tradições académicas da Universidade de Coimbra. É exclusivamente cantado por homens trajando roupa negra e uma capa grossa. Os temas respeitam os amores estudantis e o amor pela cidade. O que poderia ser melhor para impressionar as suas amadas do que cantarem a sua angústia por não as terem? E que outra música poderia explicar melhor o desgosto de abandonar os melhores anos da mocidade, a vida boémia de um estudante, do que o Fado? Foi assim que surgiu como a música oficial das despedidas de cada ano, e dos estudantes em geral, em Coimbra.

O mais conhecido dos Fados de Coimbra é “Coimbra é uma canção”, que teve um êxito assinalável em todo mundo.

Mas o Fado por si só não existiria, se não fossem seus poetas que escrevem tão lindos poemas, se não fossem os fadistas para lhes darem vida e os músicos que com os acordes de suas guitarras o tornarem uma maravilhosa poesia cantada.

Local a visitar em Lisboa é o Museu do Fado e da Guitarra Portuguesa, assim como as Casas de Fados, onde os ouvintes se deixam envolver pelo encanto e magia dos poemas cantados ao som dos trinados da guitarra portuguesa. Momentos inequecíveis!

"A Amor quis esquivar-me, e ao dom sagrado:

Mas vendo no meu génio o meu destino,

Que havia de fazer ? Cedi ao fado"

( Bocage)

Ana Flor do Lácio (09/11/2010)

Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 09/11/2010
Reeditado em 14/11/2010
Código do texto: T2605531
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