[A Anestesia que nos Salva]
[Não há escrito, poema ou prosa,
que não surja de uma circunstância: pois,
afinal, "eu sou eu e as minhas circunstâncias!"]
O tempo que era para ser
o da calma, o da compreensão,
passou - agora, todos temos
asas rápidas para fugirmos
uns dos outros - demorar,
por que, se tudo logo vira
em depressão, fluoxetina,
perda de chão sob os pés,
papel sumindo na ventania...?
Fotografia... uma sépia a se queimar
no fogaréu da memória doentia,
a mistura de passado e presente
que insistimos em ignorar,
o desespero da incerteza do futuro.
De algum lugar do no passado,
do oco sem fim do tempo,
o outro de nós grita à toa...
É "neurose", é doença chorar
pelo ontem - o amanhã já vem -
a menos da anestesia geral,
a salvadora de todos nós,
um atalho do insano processo...
[Penas do Desterro, 07 de novembro de 2010]