UMA TARDE EM BERLIM
UMA TARDE EM BERLIM
O sol das 15:00hs em Berlim
Não conseguia afastar a brisa fria
Que ingenuamente
Desalinhava meus cabelos
E fustigava minha face.
Sentia-me totalmente a parte
Naquela praça
Onde tem o Café do Brasil.
Com uma folga naquela tarde,
Era uma maneira de me recordar do Brasil,
Tomando um café
Que em nada se parecia
Com o de São Paulo.
Com o meu alemão muito limitado
Ouvia conversa das pessoas
Sem entender direito o que falavam.
Olhei a minha esquerda e percebi
Atrás de um livro nas mãos
E um óculos escuros,
Eu era alvo de um olhar.
Quando percebeu que eu tinha identificado
Uma atenção mais demorada
O livro cobriu a linha dos olhos.
Então aproveitei, mais a vontade,
Observar a presença feminina.
Era um tipo esguia,
Cabelos loiros e bem curtos.
Os dedos finos,
Seguravam o livro
De uma maneira bem delicada.
As orelhas pequenas,
Adoro mulher de orelha pequena,
Eram adornadas por brincos
De pingentes coloridos e delicados.
Voltei meus olhos para a revista
Que eu folheava e percebi
O olhar novamente em cima de mim.
Segurei a xícara e sem a olhar diretamente
Fiz uma reverencia,
Como se diz: -Olá!
Sentindo-se descoberta
Rapidamente levantou o livro.
E ficamos nesse jogo durante um bom tempo.
Ria comigo mesmo:
Como iria iniciar uma conversa?
Dizem que brasileiro dá um jeitinho em tudo,
Mas eu não conseguia imaginar um, naquele momento.
A tarde avançou e o frio também.
Já tinha ido 3 xícaras de café
E os olhares quase que cruzavam-se as vezes.
De repente ela se levantou e entrou num ônibus
Que tinha acabado de parar em frente ao café.
Acompanhei-a com o olhar
E a vi afastando dentro do veiculo.
Nem tinha reparado que o garçom
Estava ao meu lado.
Na bandeja de inox
Um guardanapo me era entregue.
Desdobrei-o e com batom estava escrito:
Bis morgen!
Essa frase eu sabia,
Pois a tinha no meu dicionário de tradução:
" ate amanhã "
Foi o convite que recebi
Naquela tarde fria de Berlim.
Di Camargo, 07/11/2010