O HOMEM SEM DEUS.

Manoel Lúcio de Medeiros.

Por que não nasci em um dia par?

Porventura não poderia ter sido impar?

Por que este mês me é sinistro, e fere-me como marco?

Porventura não há outros fortes, qual um quiliarco?

Por que nasci num país escasso, em vez de supridor?

Nasci num lugar de tanta cor, e não unicolor?

Ah! Por que ninguém me entende, nem responde,

É por que nada sei? E por que não sei?

Desconheço os limites do oculto?

Das interrogações da vida? E da morte?

Por que não penetro nas fronteiras,

Do conhecido e desconhecido sem dúvidas?

Por que o homem quer sempre saber mais?

O que alimenta este seu desejo insano?

Por que quando descobre algo, quer perscrutar mais?

Por que o conhecimento sempre é insaciável?

Por que a sabedoria de hoje, é a ignorância do amanhã?

Por que o futuro sempre sem futuro?

Porque tudo o que foi do futuro, hoje é do passado?

E o passado sempre é antiquado, obsoleto?

Ah! Por que é que alguns morrem tão jovens,

Enquanto outros morrem fartos de dias?

E qual a vantagem de um sobre o outro,

Se ambos ficaram no esquecimento?

Por que há ricos que morrem pobres,

E pobres que morrem ricos?

E qual a vantagem das riquezas sobre a pobreza?

Por que há rico que morre cedo no meio de tanta fortuna?

Por que há pobres que vivem tanto sem ter nada?

Será que existimos mesmo, ou estamos sonhando?

Será que o irreal existe, ou somos a pressuposição do real?

Ou lá na outra vida, é o real e aqui o irreal?

Ou existe um limite entre ambos?

Ou é apenas a idéia da existência?

E a verdadeira existência existe?

Posso dizer que hoje existo, se amanhã eu já não serei nada?

E ai, onde ficamos? Qual foi o nosso ponto de partida,

Quando nasci, ou quando morri?

Houve algum proveito quando nasci?

Houve algum proveito quando morri?

Do nascimento a morte, houve algum proveito?

E os que nunca nasceram, e os que nunca morreram,

Onde estão? Virão ainda?

Porventura se igualam a nós os que nunca existiram?

E os que existem hoje e que amanhã não mais existirão,

Encontrar-se-ão com os que nunca vieram?

O que somos, somos realmente nada?

Somos o nada do momento, ou o momento do nada?

O que passou, já era? E o que virá também não passará?

O homem sem Deus é a soma de suas dúvidas!

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Malume
Enviado por Malume em 08/10/2006
Código do texto: T259451