A beleza invisível das coisas
Poderia a beleza do entardecer sobre a praia ser palpável? Com certeza que sim... dentro de nós mesmos, no nosso sentir!
Aquando de uma visita a uma amiga doente, numa linda aldeia situada no norte de Portugal, sua mãe, cordial anfitriã como aliás é característico das matriarcas portuguesas, mostrava-me carinhosamente sua casa. Era uma típica e tradicional casa de campo portuguesa, linda em sua simplicidade, com muita água e verde à sua volta. Havia um lindíssimo jardim onde, com muito orgulho ela cultivava suas magníficas rosas: vermelhas, amarelas, brancas...
A minha atenção despertou quando me mostrou um exemplar de cacto (cactus - planta cheia de espinhos, que muitos consideram feia e horrível) que tinha num canto do jardim. O cacto aparentava a maior banalidade, as suas proporções eram desajeitadas e tinha uma aparência vulgar, mas o certo é que nunca mais me esqueci dessa planta, depois que ela me explicou sua particular característica: uma vez por ano, durante uma noite entre setembro e outubro, dele brota uma linda e exuberante flor que murcha aos primeiros raios de sol, voltando a desabrochar apenas um ano depois. A flor só é visível durante uma noite por ano! A sublime e delicada aparência denuncia sua fragilidade: a flor do cacto revela-se e vive todo seu esplendor sob a luz da lua. Ela não resistiria aos raios solares, pelo que falece antes do amanhecer de seu único dia de vida.
Depois de conhecer a característica deste cacto foi impossível tornar a olhá-lo da mesma maneira. Agora estava na posse de um dado que irreversivelmente alteraria a minha percepção, passei a sentir uma espécie de respeito inevitável por aquele cacto de aparência insignificante e banal.
A partir desse momento este tipo de reflexão começou a estar mais presente em mim: pensar na beleza invisível das coisas, coisas que parecem ter uma espécie de aura que as torna especiais. Refletindo sobre este assunto concluí que conseguia encontrar o mesmo tipo de beleza noutras coisas pertencentes a domínios completamente diferentes: essa aura, essa beleza invisível das coisas, que consegue ser palpável ao nosso sentimento...
Ana Flor do Lácio (03/11/2010)