[Danos que Eu me Causo] - releitura

[Chamei este texto de qualquer coisa... "Danos... etc", por que não faz diferença nenhuma que tenha um título...]

[Antes de começar, torno a avisar: qualquer coisa a modo de CONSELHO, para mim, "é agouro"; sou refratário a conselhos, e sou cão de agosto, raivo, jogo no lixo mesmo! Marco um encontro comigo no silêncio do outro]

Existo, ganho salário, sou tributável, localizável, condenável mais pelo que deixei de cumprir que pelas coisas que fiz. Mas não sou propriamente tangível — isso não. Vejo-me em prismas... Fatal, dividido sempre, doido, maluco ou não - quem se sabe... - sei-me recorrente: eu itero essa dor de ser - e por quê? Ah, mas eu sou eu e as minhas ideias, turbilhão de ideias que me assola noite e dia, noite e dia. Preciso ter computador, tela de internet, papel, casca de árvore, guardanapos - qualquer coisa que sirva para quê... para registrar nada, registrar esses nadas, esse esvaimento, esse morrer insano, essa sensação de boi em véspera do abate.

Boi pra morrer? Ara... a caminho das minhas terras, eu passava pelo matadouro, e via os olhos dos bois no curral da véspera. E então, eu, com um pé descalço, firmado lá em baixo num liso do arame farpado, as duas mãos agarradas, lá em cima nos lisos do último fio de arame, aproximava meu peito da cerca, e sentia-me pregado na cruz... simulacro inconsciente da experiência da cruz? Eu não creio em inconsciente! Eu corto e recorto, mas conto... eu li os meus medos nos olhos deles. Ah, eles, os bois, nem sabem... mas eles me olhavam... interrogo-os até hoje... será que não sabem? Ou, como nós, só dão pelo destino quando vêem o semelhante acabar de cair... morto? Nessa exata horinha, eles sabem... a gente sente que sabem!

Ser-me... Acho isso tão grave, que agora, dei nessa mania de achar que eu vou morrer de mim mesmo, dos danos que me tenho causado. Pode ser que me matem os outros, mas isto também será uma consequência do que tenho sido, dos lugares onde ando, da fatalidade de cair uma marquise velha na minha cabeça, ou acertar-me uma bala perdida ou endereçada...

Eu sou frágil, sei disso, e nunca sei o que fazer a seguir. E vim me matando desde pequenino, com o tempo, este processo só piorou, e, acreditem, só piora com idade... idade: coisa que nunca quis para mim, nunca quis saber que eu tinha, e se perguntado, eu me confundia. Ter uma idade; coisa mais estranha, mais estúrdia a gente ter uma idade. quando por dentro, o mais das vezes, a gente não tem nenhuma!

Repito: vejo-me em prismas...

ou, mais precisamente, analisado — raias espectrais do [meu] ser falam-me, isto é, me falam, me dizem, sem nada explicar, sem dar razões, sentidos – tal como as raias da luz apenas são. Nunca escrevi algo tão inútil como essa frase. E este meu texto é mais um inacabamento meu, só meu, ninguém tem nada com isto!

[Penas do Desterro, 07 de fevereiro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 02/11/2010
Reeditado em 20/12/2010
Código do texto: T2591787
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