LIBERDADE
Eu cheguei como quem não quer nada,
Mas deseja muito, o que quer.
A insegurança e a perda,
É a soberba liberdade que se tem.
Convêm aos poucos e loucos de espírito,
Depreendidos que são dos conflitos.
Amor de conceito burguês, semi-social,
Porque não divide e não deflora,
Fecha-se, tranca a aurora de cada dia.
Amarra numa prisão aconchegante.
Dantes as correntes e os afetos,
Agora o dia-a-dia solto e afoito,
Feito de Liberdade, de ironia.
Ó conceitos que dá a toda teimosia razão!
Quando se está pregado no chão,
Com raízes que formam, e foram,
A liberdade é uma dor de cabeça,
E a prisão é o colo que se quer chorar.
A rua e o passeio já são mais alheios,
Quando só se está só.
Se deixarmos as mágoas
E as águas claras das correntes, das mentes,
Tão lúcidas quanto necessário for,
O amor já não tem mais prisão.
E nossa amiga ronda,
Acompanhada da solidão.
Por mais que queira ser,
Ver que o mundo muda, e com ele eu vou,
Tenho saudades dos gomos fechados,
Unidos numa horizontal.
Mal que durou todos os anos,
Mas que só agora faz sofrer.
E faz com que a saudade, seja da felicidade,
Que não se provou.
Não quero me justificar.
Não quero mais amar.
Porque tenho pena de mim!
Cheguei em casa, pois é pra lá que vou.
Estou mudando, de roupa, de ser trouxa, amarrada, suja.
Mudo entro na sala.
E por lá está escrito o que descrevo aqui.
"Viva a solidão, nesta parede branca,
Onde as letras são só signos,
E nos quatro cantos nem sombra há!
Hoje é Hoje porque o sol nasceu,
E a noite passada eu não morava aqui.
Não tem passado que passou, e nada ficou.
Sou livre e a liberdade é o tempero,
Que o desespero jogou,
Nessa parede, nessa parede,
Nessa parede, nessa parede,
E nos quatro cantos nem sombra há!”
Sou livre e por estar preso a esta liberdade
Refiro-me ao teto,
Que me guarnece e me entristece.
Não posso voar, e sou livre!
Penso, penso, e então vôo,
E aos poucos a fome me consome.
Totalitária a liberdade que me come.
Apalpando os pigmentos brancos,
Fazendo sombra com o sol,
Desvendo uma lágrima.
Úmida na sua aparência, mas cristalizada.
Como se nunca saísse donde está.
É minha companhia, uma fatia.
Que me faz homem, porque vivi,
Porque chorei.
Já não sei estar livre.
E estando preso a outros tantos
Sinto-me em casa.
A casa onde estou.