Desponte de rima, lida, querer e galpão.
Empilho os cernes num canto do galpão, aquele que terceei pra abrasar os tição, que a muito vem negro, mouriscado de picumã e cinza. Ateio a corunilha num canto com querosena e vejo o fogo consumir a madeira numa lentidão cruel, e a chama se agranda.
Cambona cheia chia nas brasas, o aguaceiro pecha no zinco, ponteando de clarões de raio e berros de trovão. O lamaçal se estende mais largo lá fora, e mirando-o me olvido da cuia, emalada no frenesi dos rugidos e clarões.
Me ajeito e volto a consciência. Lembro dos afazeres, lembro do mate, da lida, das potradas, e da dor, que me cala fundo como um golpe de adaga chairada quando lembro do moreno, moreno lejo a quem dei um eito do meu coração. Que me consola é saber que o que sinto por ele, ele sente também por mim, e que nem a distância, ou a lida, ou o tempo podem nos separar.
Retorno a mim novamente, com um par de lágrimas me correndo aos cantos dos olhos, e nisso a água já ferve. Uma estiada se para no campo, com as nuvens de pelo osco saindo a galope no minuano, trazendo a luz limpa e pura dos primeiros raios de sol da alvorada.
A aurora me convida a encilhar o pingo e calçar espora. Os raios de sol vêm esverdeando a campa, e a esperança pouca que me resta força-me a sorrir e crer que isto é só uma tempestade: chega forte e passa ligeira.
Alzo a perna, tomo as rédeas, esporeio e me largo “a lo leu”. O campo se une as patas, o minuano aos meus cabelos, que no primeiro suor puxo do freio mirando em meio ao nada uma manchita amarela no campo. Lembro nela o carinho com que meu poeta me chama, pois sei que em seus versos sou eu sempre a flor!
Me quebro pro lado do campo dos fundos, que já passa da hora do aparte, e imagino o dia em que poderemos ser um. Um coração, um espírito, unidos corpo a corpo nesse querer guaxo, em sorrisos e braços, lábios e sentires.
Primavera de 2010