Izabel
Izabel
Desses olhos sertanejos correm águas e delas bebe a terra seca.
É tanta água que bebem a vaca, o bezerrinho, o burrico que até ontem à noitinha andava triste, agora pasta tranquilo e sereno.
Bebem dessas águas bichos grandes e bichos pequenos feitos os grilos e os preás.
Enchem o poço as lágrimas desse moço, saem atravessando a porteira e feito rio desce pelo pé da montanha, se espalhando e trazendo vida, virando campina e vive de novo o ingazeiro.
Se espalha muitas léguas, atravessando os caminhos, e os meninos brincam, as moças soltam as tranças festeiras e dançam vendo a belezura dessas àguas claras que seguem o caminho bruto e vai deixando bonito o canto do sabiá e todos os pássaros se alegram. Há tempos não se vê tantas águas por essas bandas!
Elas inundam tudo de perfume de alfazema, de guiné, do cheiro de frutos maduros no pé,enquanto caem das cascatas.
E corre o tempo, correm as águas que enchem o açude e traz povo de todo canto, com trouchas de roupas, que lavadas enfeitam o chão, quarando ao sol.
Mas nem toda a beleza dessas águas puras que jorram, sem ter dia ou hora pra calar traz de volta Izabel.
Izabel era moça de olhos azuis, corpo pequeno, cabelos desgranhados de vento, pele queimada de sol, a dona do coração e dos olhos desse sertanejo, que chora desconsolado e nem se dá conta desse pranto, chora somente essa saudade bonita, lembrando de Izabel que fica misturada ao pó da terra, engolida pela foice da seca .
Apenas ele reconhece o gosto dessas lágrimas, a vida contínua rumo ao mar.
Cristhina Rangel.