Ah Tietê!

Ah, Tietê, que destes as costas ao mar, ao contrário de teus irmãos, e vieste banhar as terras do interior de São Paulo, enriquecendo-as. Ao nascer tu és um fio de água cristalina entre as pedras e vais crescendo ao receber afluentes durante a tua jornada, no começo pequenos regatos, depois rios maiores vão engrossando tuas águas. Ah Tietê, outrora tu eras um rio cheio de vida, desde tua nascente até a tua foz, onde tu encontras teu irmão maior, o Paraná. O significado de teu nome é rio verdadeiro e tuas águas tramsparentes, repletas de anfibios, sucuris e peixes como Jaús, Dourados, Surubis e Paús. As grandes Sucuris estendiam-se nas tuas margens para se aquecerem ao sol, trânquilas, donas do rio e da terra, sem cuidados, pois nada tinham a temer, ao contrário dos jacarés,que sendo presas não podiam se descuidar. Lontras e Ariranhas alimentavam-se em tuas aguas e habitavam em suas barrancas. Em ti saciavam a sede veados, suçuaranas, jaguatiricas, anhumas, perdizes......Tribos indigenas que viviam desde a tua nascente até a tua foz estrondosa, alimentavam-se e matavam a sede em ti, Tupiniquins, Guaranis, Caiapos.........Tu Tietê pertencia a todos e não eras de ninguém, índios, rios, matas e animais tinham em comum a vida que nasce e renasce a cada dia.

Ah Tietê, um dia chegaram homens diferentes, de pele clara, dalém mar, cheios de vestimentas e amaram....... as tuas riquezas. Amaram os teus peixes, as tuas caças, as pedras preciosas que rolavam em teu leito e usaram-te como caminho para Cuibá, insaciaveis atrás do ouro que lá abundava e nessa jornada caçaram indigenas como se fossem animais, escravizando-os tirando deles a liberdade e muitas vezes a vida.

Ah Tietê, quantas mudanças tu sofreste com a chegada do homem de pele clara! Nas tuas margens foram surgindo vilas e povoados que com o passar do tempo tornaram-se cidades, a maior delas São Paulo, que não nasceu nas tuas margens, mas pela proximidade tu te tornaste recreio para os paulistanos que em tuas águas nadavam, pescavam, realizavam competições esportivas e em tuas margens aprazíveis faziam festas e piqueniques e construiram Clubes Náuticos, mas com o passar do tempo a cidade foi crescendo e dominando tuas varzeas, industrias foram surgindo para o progresso e fatalmente tu te tornaste o receptor do esgoto da cidade, morrendo aos poucos.

Ah Tietê, acabou-se o recreio nas tuas margens! Teus peixes desapareceram, aterraram tuas varzeas, construiram casas e ruas , e confinaram-te entre avenidas marginais, fazendo-te pequeno, sem verde, sem vida! As águas que caem do céu, só encontram concreto e asfalto e furiosas não tendo onde se acomodarem descem em direção a ti, e tu Tietê, tão minguado pela mão do homem não consegues acomodar tanta água e choras, e tuas lágrimas, junto com as águas transbordam inundando a cidade, provocando lágrimas nas, pessoas que sofrem com a inundação e te amaldiçoam, esquecendo que tu não és o invasor, mas o invadido!

Ah Tietê, fizeram de ti um grande esgoto a céu aberto! As pessoas quando passam pelas marginais viram o rosto e fecham os vidros dos carros para não sentirem o odor de morte que tu exalas, têem nojo de ti! Estás morimbumdo! Lixo e cadaveres passam boiando em tuas águas imundas e malcheiroras.

Ah Tietê, o que fizeram com você? Jogam lixo e esgoto no teu leito e bebem tua água, gastando milhões para torna-la potavel. Quanta incoerência!

Ah Tietê, deste tanto aos homens e eles te poluiram. Você pede socorro, agoniza e parece que ninguém se importa. Muito pouco fizeram por ti, até criaram um dia para te homenagear, mas não há o que comemorar. Diante de tanta tecnologia o homem viaja pelo espaço, descobre galáxias a milhões de anos luz da terra, clonam seres vivos, constroem armas nucleares potentissimas , gastam milhões em pesquizas e não encontram uma cura para ti!

O Tâmisa, teu irmão estrangeiro, já sofreu os teus males, a tua dor, e foi curado! Pessoas que o amaram verdadeiramente, lutaram por ele, investiram em tratamento de esgotos e a vida voltou a correr em suas águas.

Ah Tietê, vais deslizando lentamente, cansado, carregando esgoto, lodo e entulho e até te tornas atração em alguns trechos pelas montanhas de espuma que formas, devido a detergentes que chegam a ti, mas saindo das grandes cidades e indo para o interior, tuas matas ciliares vão te purificando, te curando, e no restante da tua jornada chegas vitorioso depois de mais de mil quilometros de jornada ao encontro de teu irmâo, o Paraná.

Ah Tietê, meu irmão, não desista. Quem sabe um dia os homens não darão conta do teu valor e lutarão por ti? Quem sabe a vida não volte a correr em teus trechos enfermos? Quem sabe um dia não voltes a ser recreio e orgulho de paulistanos?

Madaja Dibithi
Enviado por Madaja Dibithi em 17/10/2010
Reeditado em 17/10/2010
Código do texto: T2562018
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