Histórias de Amor
Quem entenderia o "não querer voltar pra casa"
quando muitos se matam em metrôs, ônibus e bicicletas tão somente pra isso?
A quem iria importar um sentimento submisso, preso nas camadas de um dia que a ninguém pertence?
Quem iria interessar-se pelos excessos de uma funcionária indisciplinada numa tarde de sexta, de uma moça sozinha numa cidade hostil e perigosa, se ao passar nos semáforos, o "natural" é fecharmos os vidros e as portas?
Aceita-se antecipadamente a indiferença, a falta de crença e as suas torpes situações, sem reconhecerem uma ingênua, primária, mas sublime história de amor.
Existem aos montes amores clandestinos, que não se confia a ninguém e que guardamos até o fundo de nós mesmos com a amargura de um fracasso.
Amores impossíveis e sem espaço.
Pois é, assim somos nós.
A nós interessa somente a nossa história de amor.
Essa, que amanhece junto, que anoitece junto, que se eterniza com o passar das luas e que ninguém toma conhecimento.
Tudo porque o nosso sentimento só pertence a nós.
Então, a quem importa se eu amo aquele sorriso?
Só a mim e nem mesmo ao dono daqueles dentes.
Que importa se os dias estão frios ou quentes?
Então, não há mesmo razão pra voltar pra casa.