Histórias de Amor

Quem entenderia o "não querer voltar pra casa"

quando muitos se matam em metrôs, ônibus e bicicletas tão somente pra isso?

A quem iria importar um sentimento submisso, preso nas camadas de um dia que a ninguém pertence?

Quem iria interessar-se pelos excessos de uma funcionária indisciplinada numa tarde de sexta, de uma moça sozinha numa cidade hostil e perigosa, se ao passar nos semáforos, o "natural" é fecharmos os vidros e as portas?

Aceita-se antecipadamente a indiferença, a falta de crença e as suas torpes situações, sem reconhecerem uma ingênua, primária, mas sublime história de amor.

Existem aos montes amores clandestinos, que não se confia a ninguém e que guardamos até o fundo de nós mesmos com a amargura de um fracasso.

Amores impossíveis e sem espaço.

Pois é, assim somos nós.

A nós interessa somente a nossa história de amor.

Essa, que amanhece junto, que anoitece junto, que se eterniza com o passar das luas e que ninguém toma conhecimento.

Tudo porque o nosso sentimento só pertence a nós.

Então, a quem importa se eu amo aquele sorriso?

Só a mim e nem mesmo ao dono daqueles dentes.

Que importa se os dias estão frios ou quentes?

Então, não há mesmo razão pra voltar pra casa.

AURORA ZANLUCHI
Enviado por AURORA ZANLUCHI em 16/10/2010
Reeditado em 06/11/2011
Código do texto: T2559357
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