IN.FINITUDE






   
  Meu Deus, já não há nesse mundo um lugar onde eu possa me abrigar dessa bruma. Mas, me surpreende a força com que meu ser se apega a essa possibilidade de sobrevivência. Posso alçar-me, ao menos numa tentativa, de continuar nessa além-vida que me exaspera tanto.

     Mudar é algo que está muito além do que eu consinta me proporcionar! É além mim, como seu eu fosse um mar, um além mar sem possibilidade de retorno. É uma acepção que se estende numa corrente infinda, em partes escavacadas, de desertos e afins, sem tempo de areias revoltas, dispersas aos ventos que me extinguem a razão.

     Não perguntarei os porquês. Só cabe às estrelas saberem. Elas que te presenciam os momentos de alegria, os de vazios e introspecção. São elas que conhecem todas as linhas e as metáforas que te ordenam o coração velarmente introspécto!

     Parece-me tão comum esse meu dispersar. São motivos diferentes. São razões tão iguais, visto que somos todos parcialmente pertencentes ao mesmo e frágil grupo – de meros mortais combatentes!

     E nesse combate, tanto me debato. Me arremeço instável nessa vida errante, onde já não me encontro e não te encontro mais. E, se acaso vier a se dar esse embate, o que perpetrar? Qual a cátedra de minhas mãos se não me faculta compartilhar tuas dores? Se não me comporta extirpar lágrimas e ser a velha criança sobre os pessegueiros onde tudo se revificava. Onde tudo se serenava em sonhos mágicos após o aconchego ao fidelíssimo travesseiro lavanda de minha infância?

     Isso não era para mim. Era apenas um quadro onde me vi na sua imagem. Na profundeza abstrata dos olhos cansados, implorando descobertas. Foi nesse quadro aéreo imagético que me firmei mais real e concretizável de que em todos os passos já depreendidos de meus pés desnudados e vagos.
     No consentir tua absorção em essência foi que me fiz teu silêncio. Tornei-me meu próprio silêncio.

     Depois de tantas noites, andadas vagamente, encontrei em ti, a parte de mim ocultada, entre extenuação e a ânsia extrema pela vida. A vida que anseio em desespero infinito. No entanto, é trajetoriarmente mais difícil do que contemplamos. O fardo não nos fica leve, nem conforme nossa esquiva vontade e nem mesmo se nos desviamos propositalmente de nossos caminhos inicialmente elaborados.

     Definitivamente não há como ludibriar destinos! E não crer nisso, nada mais é de que uma tola candura, quando em ausência de sapiência e razão.

     A grande verdade é que o pensarmos que está em nossas mãos, em nada muda a compreensão dos fatos, se, neste mundo em que nada sabemos, somos apenas e simples mortais sofrendo com nossas próprias dores. Sofrendo das dores alheias o sofrimento de vidas que assumimos como sendo parcialmente nossas. E,  não nos resta isenção. Se,  essas vidas se deitam em nossas mãos e as conduzimos por convenção propriamente dita.

     Os pêndulos dos dias se aceleram. Diuturnamente, incessantemente, sem tempo e nem ensejo de um olhar, ainda que vago e pensativo.
     Já não resta tempo e não é conveniente nesse momento que olhemos e, olhando, esperemos por algo.
     Não convém ansiarmos por esse algo a mais que sempre vem dessa outra vida, essa outra que vive, meio que do lado de fora de nós.







* Do Romance "COISAS QUE SENTI QUANDO TE SENTI"- que em breve estarei lançando.







AndreaCristina Lopes
Enviado por AndreaCristina Lopes em 14/10/2010
Reeditado em 19/07/2011
Código do texto: T2556047
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