Amiga Silenciosa

Procuro lugares vazios, escuros e desertos, mas não encontro nenhum. Tenho sim meu canto, mas ele é acessível. Fico aqui pensando e sonhando com a felicidade pregressa que nem sei se era não feliz assim. Cabeça baixa. Absorto. Olhos caídos, fitos no nada... Pensamento além do Além. Ouço passo subindo as escadas. Minha mãe vem, olha para mim tristonhamente, dá descarga, porque eu não o fiz, dá uma olhada geral em minha sala de visitas, disfarça mais uma vez como se eu não fosse perceber a sensibilidade e preocupação dela, novamente olha para mim, abaixa a cerviz, olha mais uma vez de soslaio e desce novamente sem dizer uma só palavra, sem assunto, comovida.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 12/10/2010
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