Como quem não quer nada, uma olhadela no espelho...
Quem é este velho cujo corpo aprisiona o menino?
Lá se vai mais uma das minhas sete infâncias
Cronos, com sua bocarra aberta, engoliu umas três
Restam-me ainda quatro para a viagem, isso dá
Rever a bagagem, lápis, caderno, bodoque, borracha
Asas nos pés, olhos de águia, pulmões de aço...
(Mais um escafandro, só por garantia...)
Bagagem, só uns dois ou três sonhos (não o doce)
Chaves para os cadeados da imaginação
Manual de abrir portas e janelas (e fechá-las)
Óculos protetores contra vendavais
Binóculos para os horizontes distantes
Dicionário de termos adultos que não se deve usar
Lista de sentimentos adultos para não se ter
Ah! O mapa de todos os medos possíveis
Lista de assuntos naturais e sobrenaturais
Uma regra: fantasmas não existem, unicórnios sim
(Ração balanceada para unicórnios...)
Palavras para se encantar os cavalos alados
Os ventos e as águas e as onças bravas
Formigas, abelhas e marimbondos
Para se encantar a escuridão da noite
Para namorar a Lua e falar com as estrelas
E, é claro, para dar bom dia ao Sol...
Uma caixa de fósforos, duas lanternas
Um par de pernas, além das asas
Que os voos são promissores nessa época
Ainda me restam quatro infâncias
Na bagagem uma foice de ouro
Ainda corto os testículos do Tempo
Seu sémen no mar fará uma espumarada
Eu ainda vou casar com Afrodite...

(Poesia On Line, 12/10/2010)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 12/10/2010
Reeditado em 01/08/2021
Código do texto: T2552114
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