NA PLACENTA DO NOVO ANO

O poema envergonhado e tímido fez algumas modificações na cuca do poeta que te dedicara o verso. Entendeu que havia outro pequenino na barriga do anterior. O amor faz milagres. Os descuidos dele também.

Agora que o outro nasceu, os opostos estão juntos, como sempre: andam ambos a chorar pelos cantos. São duas criaturinhas andando de mãos dadas pelos cantinhos de Deus e do Capeta.

E com este passeio urgente, a experimentação bota mais uma cria no mundo. O segundo não chora. Nasceu rindo na placenta da palavra. Agora faz xixi na cara dos que o vêem espernear. E todos riem pela novidade da visita.

Enquanto um bole na tristeza, o outro mergulha na alegria e borrifa a palavra.

Há uma girândola de fogos saudando o Ano Novo. Até o Jesus Cristinho brinca com um azul e roxo guarda-chuva de fogos.

Todos os anos a Humanidade dorme na esperança da Luz.

– Do livro EU MENINO GRANDE, 2006 / 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/254988