Verbo Obscuro
                                                           
           (Líricas de um evangelho insano)
                        
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                                                      (releitura)

Sou extremamente desconfiada de mim então desconfio das palavras. Desconfio da teia das palavras, dos pontos, das pinças, desconfio  das rinhas que frequenta, a palavra afunda meu espaçamento, o meu ser tempo, me oculta, me engedra, me respira, mas, não me compreende nem eu a compreendo. Devo ser-lhe uma caixa oca, com uma ressonância louca de estupefação de gritos ancestrais da minha maturidade, violentada no meu tempo/espaço.
 Não bordejo, nem vaquejo, me enredo entre sinais que contesto. Se é habitação me descuido de habita-la, se me resvala, caio na sua vala, afundo na rala. Desconfio da palavra, me recuso a entende-la, tento verga-la como o junco, quebra-la com o cinzel, bebe-la do tonel no cálice das minhas sangrias, mas, me asfixia, me endemonia, me lanha, me verte e não me submete, não  lhe faço rogo, não me penitencia, não lhe considero verso puro, fico sempre atrás dela, desconfiadamente, com meu olho  aberto no escuro, sangrando o meu verbo oculto...


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