[Risco à Faca do Sorriso]
Sublinho a minha dor
com a ponta [mais cortante]
da pedra fria do meu rosto...
Há sempre quem se engana ali,
naquele vértice de mim.
Finjo tão intensamente a angústia
que me perco entre o simulacro
e o real que logo sou.
E reconheço:
a farsa pega-se-me à cara,
e já não posso separá-la
de meu modo de ser —
eu capricho de ser insinuante...
E se às vezes avulta
o inferno em mim,
o que eu uso para ferir mais fundo?
Ah, o duro vinco do meu sorriso
é a faca certa para riscar o peito,
— sou todo cuidados, isto é,
sou cirurgicamente cuidadoso...
Há sempre quem me abra
o [seu] peito assim...
à faca do meu sorriso.
[Penas do Desterro, 08 de outubro de 2010]