[Risco à Faca do Sorriso]

Sublinho a minha dor

com a ponta [mais cortante]

da pedra fria do meu rosto...

Há sempre quem se engana ali,

naquele vértice de mim.

Finjo tão intensamente a angústia

que me perco entre o simulacro

e o real que logo sou.

E reconheço:

a farsa pega-se-me à cara,

e já não posso separá-la

de meu modo de ser —

eu capricho de ser insinuante...

E se às vezes avulta

o inferno em mim,

o que eu uso para ferir mais fundo?

Ah, o duro vinco do meu sorriso

é a faca certa para riscar o peito,

— sou todo cuidados, isto é,

sou cirurgicamente cuidadoso...

Há sempre quem me abra

o [seu] peito assim...

à faca do meu sorriso.

[Penas do Desterro, 08 de outubro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 08/10/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2545434
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