Lembranças de outono
De minha varanda sinto o cheiro dos cajus e vejo o sol brincar por entre a folhagem amarelada. É outono. Todo o chão do quintal pinta-se das flores secas e o vento passa sacudindo-se do calor da tarde.
Também já me vi assim; Soltava meus cabelos para te fazer respirar de meu cheiro faceiro e sensual.
As flores misturavam seus tons mesclados de vermelhos aos de meus lábios e eu sorria como se secretamente soubesse que tu me amavas. E elas ficavam a balançar as pétalas competindo com esse meu caminhar caboclo. Há dias que fico debaixo do cajueiro, distraída, com a lembrança de nossos olhares e depois, olho a beleza da tarde. Tu me foste muito especial.
E recordo que meus pensamentos de mulher inventavam mil modos de chamar tua atenção. Eu punha margaridas nos cabelos ou fazia-lhes cachos que se desmanchavam em tuas mãos. O céu azul abria-se em nuvens de algodão para ouvir meus gemidos nas horas desses afagos.
Ah, os pássaros soltavam a garganta e tudo era música de amor!
E quando a lua aparecia como bola branca adivinhando beijos amantes, tu me fazia versos. Ainda lembro-me de um singelo poeminha de amor que mo fizeste. Fiquei suspensa no ar e me vi bailando tal estas folhas que estão prendendo de mistérios meus olhos.
Agora, meus olhos têm apenas essas lembranças para correr no vento de outono.