Últimos Versos
Sou romântica. Ainda escrevo utilizando canetas e cadernos, ainda capricho na caligrafia quando faço versos de amor e quando me veem furiosos, marcando as páginas seguintes , revelam-me nestas marcas.
Estes são os últimos versos que escrevo neste caderno, e releio um à um, escritos anteriormente, em alguns não reconheço o dialeto intimo criado por sentimentos mordazes.
Penso em quantas palavras foram já foram escritas e as rimas que não deram certo, destoaram na prosa e agora relidas, vejo que tudo deu certo! Penso também nas malditas palavras que não chegaram e deixam meus versos incompletos, incapazes de reproduzir os meus pensamentos, deixando assim minhas emoções ocultas. Mas que culpa tenho eu? - Me pergunto e reconheço que as palavras usam-se de mim, como eu uso-me delas para existir.
Essas palavras cúmplices da minha existência, ficam presas a mim e eu a elas, como se fossem um cabo de salvação, muitas vezes, a minha própria razão e concluo que os medíocres escrevem sobre o
que desconhecem e eu escrevo de mim, para melhor conhecer a minha mediocridade.
Fecharei o caderno, assim como se mais um ciclo se fechasse, um sepulcro, que leva parte de mim, talvez ínfima partícula de tudo o que eu sou, dos amores amados, perdidos, desprezados e outras razões pelas quais escrevi sem a pretensão de ser nada além do que sou quando me transformo enquanto escrevos essas palavras.
Talvez o último e menor de todos os poetas.
Cristhina Rangel.