RETRATOS DA FEIRA DO LIVRO

Pobres e incautos poetas e escritores encantam sua arte de dias e noites entre folhas de papel e o verbo fere a vida em riscos e rabiscos convencionados.

Palavras se perdem e se guardam em livros, revistas e jornais sem conhecerem seus destinos.

Pés amassam solas e fibras sobre poeira e pedras: homens e mulheres desfilam olhos e mãos em obras de muitas vidas.

Crianças ouvem histórias, olham capas e criam em si fantásticas imagens.

Jovens enamorados rasgam-se em beijos e abraços temperados com a visão dos invejosos. É tempo de ler ou não ler mais que o pedido dos mestres.

Livreiros, editores e comerciantes da gula literária humanamente possível em todos os seus aspectos saboreiam reais.

As artes invadem a praça coroada em verde e lilás dos pés de jacarandás, invadida pelos sons de pássaros e instrumentos, fala viva fora dos folhetins.

A imprensa é de vozes e palavras dirigidas ao sucesso de apenas alguns protegidos de seu poder, prometidos da sorte.

Internet e internautas navegam terras e mares em sonhos e buscas.

Dois grandes poetas permanecem imutáveis em bronze na Alfândega, onde ninguém mais será o mesmo depois de passar pela Feira do Livro.

Quintana continuará a sonhar com largas e longas saias ao vento do beco e Drummond será ainda gauche pela vida, estatuados no banco da praça acrescidos as fotos de admiradores.

O último lambe-lambe lambe talvez suas últimas fotos.

Canto e encanto, gula da palavra, pretensão de imortalidade, desfilam aos borbotões palavras e pensamentos.

Quem voltará na próxima feira dentre os mortais?

O único troféu, derradeiro talvez, mais um autógrafo e o livro livre em todas as promessas e imagens que traz a cada página quando e se for lida, diferente para quem for que leia.

Seja o livro o bendito maná da cultura e a democracia rasgue oportunidades iguais ao conhecimento e união entre os homens!

Deus chove bênçãos em luz, água, flores, verdes, sorrisos e palavras em todas as intensidades, nuances e tons singrando as almas em visões in-esquecíveis de ficção e realidade a cada feira mais de tudo que do livro. Ieda Cunha Cavalheiro Po.A, 13/11/09.

Ieda Cavalheiro
Enviado por Ieda Cavalheiro em 02/10/2010
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