O Que Há?
Trezentos e noventa dias de inércia.
Precisamos conversar. Não, não precisamos.
Não há o que conversar, pois não há nada.
Há sim, e há tudo. Ou não viveu?
Vivi, mas não há o que conversar.
Há o que conversar, pois houve vida.
Não houve vida, a vida ainda há.
Há de não haver, mas havemos de conversar.
Não, não há o que conversar, pois não há nada.
Há, ah, há sim; há tudo o que fizemos.
Não, não há. Isto não precisa ser conversado.
Não há de haver conversa; ela pode estragar o que há.
Mas como vai estragar o que há se diz-me que não há?
Há, mas não há; qual parte não consegues entender?
Não consigo entender o haver sem ter; o ter sem haver.
Afinal, há ou não há?
Não sei. Há?
Há lágrimas?
Há desespero?
Há frustração?
Há medo?
Há o nada, habitando o que não foi?
Há o nada, habitando o espaço do que deixou de haver?
É, ah, há, sim, o que conversar!
Há, é? O quê há, por exemplo?
Há um fim, pois houve um começo.
E precisa ser agora?
Não precisa. E precisa ser conversado?
Não, creio que não há mais ter que ser conversado.
Não há?
Não há!
O que há, afinal?
Nós. Somos o que há!
E o mundo. Quanto ao resto do mundo, o que há nele?
Não importa, o preenchimento do haver somos nós.
E há um "nós"?
Por mim, há! E por você, há?
Há!