O Que Há?

Trezentos e noventa dias de inércia.

Precisamos conversar. Não, não precisamos.

Não há o que conversar, pois não há nada.

Há sim, e há tudo. Ou não viveu?

Vivi, mas não há o que conversar.

Há o que conversar, pois houve vida.

Não houve vida, a vida ainda há.

Há de não haver, mas havemos de conversar.

Não, não há o que conversar, pois não há nada.

Há, ah, há sim; há tudo o que fizemos.

Não, não há. Isto não precisa ser conversado.

Não há de haver conversa; ela pode estragar o que há.

Mas como vai estragar o que há se diz-me que não há?

Há, mas não há; qual parte não consegues entender?

Não consigo entender o haver sem ter; o ter sem haver.

Afinal, há ou não há?

Não sei. Há?

Há lágrimas?

Há desespero?

Há frustração?

Há medo?

Há o nada, habitando o que não foi?

Há o nada, habitando o espaço do que deixou de haver?

É, ah, há, sim, o que conversar!

Há, é? O quê há, por exemplo?

Há um fim, pois houve um começo.

E precisa ser agora?

Não precisa. E precisa ser conversado?

Não, creio que não há mais ter que ser conversado.

Não há?

Não há!

O que há, afinal?

Nós. Somos o que há!

E o mundo. Quanto ao resto do mundo, o que há nele?

Não importa, o preenchimento do haver somos nós.

E há um "nós"?

Por mim, há! E por você, há?

Há!

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 02/10/2010
Código do texto: T2533008
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