VERSO E PROSA RÁPIDA
Seu doutô a minha vida
É uma história cumprida
Que acho bom se assentá
Pois se tivê um tempinho
Tome aí um cafezinho
Me escute que eu vou contá
Sou das bandas do sertão
De um pequeno torrão
Longe de qualquer lugar
Que a noite cachorro uiva
Terra que até mesmo a chuva
Passa tempos pra chegar
Tem boi na mata escondido
Desde bezerro perdido
Que virou barbatão
Animal muito valente
Vive escondido de gente
Só anda na escuridão
Tem canário cantador
Azulão açoitador
Que da gosto a gente ver
Tem porquinho no chiqueiro
E galinha no terreiro
É só torrar e comer
Lá só nos falta dinheiro
Mas de noite tem luzeiro
Das estrelas lá do céu
E a luz faz claridade
Cobrindo a humanidade
Com seu imenso véu
Quando o inverno demora
A gente não ver a hora
Do açudezinho encher
A enchente traz o peixe
Do capim se faz um feixe
Para os animal comer
Me acredite ô sinhó
De um lugar assim eu sou
Sem ter pau pra dar num gato
Mas tem moreno bonito
Arrumado e bem vestido
Que só precisa de um trato
Mas como nada é pra sempre
Não pôde ser diferente
O que me aconteceu
É que em uma tarde fria
Gemendo de agonia
O meu genitor morreu
Não fiquei orfã sozinha
Dez irmãos na mesma linha
E a minha mãe querida
Tivemos que muito cedo
Desvendar todo o segredo
Do que é lutar pela vida
Da minha mente não sai
O que é viver sem um pai
Sendo ainda adolescente
Sem ter culpa ele não sabe
Que levou uma metade
Da vida que tinha a gente
E depois de muitos anos
E meio mundo de enganos
Eu ainda aqui estou
Pra quem não acreditava
Que dos vinte eu não passava
De longe se enganou
Pois conhecí gente boa
Gente ruim e gente à toa
Nessa vida de penar
Mãe existe apenas uma
Mas pai qualquer um arruma
Em quase todo lugar
Não queira me entender mal
Se reclamo é natural
Porque sei o que passei
Se me sinto renovada
E porque fui perdoada
Porque muito perdoei
Andei em muitos caminhos
Pisei em cravos e espinhos
Suei e fiz o que pude
Para ninguém mais penar
Faço questão de deixar
Um alerta pra juventude.
Dalvalene Santos/2010