Divagações de um Momento Singular







          Todo final de tarde traz em si um lânguido lampejo nostálgico. O frescor da chuva num repente se fez nítido. Primeiros acordes de um verão tardio, embora precoce que se transporta, mais uma vez.
          E, são levados, esses acordes, involuntários para onde se extasiaram os dias de início do outono.
          O sonho era promessa, com olhos do eterno, a aquecer-se pelo inverno. E, pelas pastagens, se exalava o perfume das flores de laranjeira. Alvas! Convidativas às tantas e tantas abelhas, furtivas em busca do néctar,  incessantemente.

     E o mesmo perfume se espalha. Sem barreiras impostas pelo vento.

          No pêndulo que guarda segredado o tempo escasso, vejo, pressinto soturnamente teus passos. Leves, absintos de olhar enlevado por sobre as águas verdes da infância. Uma vista tão longa que te alcança o não poder retornar. E o querer estar aonde lhe ausentam os pensamentos, o frustram, e desiludem compulsivamente. Reflexão evasiva.

          Teus pés no chão, sempre haverão de seguir. Intocáveis sob o olhar atento daqueles que te presenciaram. Guias que te põem encorajamento a enfrentar com honradez. Por ora, tua tez máscula se faz avigorar na existência. E, te segue, imácula e branca, sem nenhuma culpa, a consciência.
          Olhos de amor ainda te acolhem em suas noites insones. Olhos que te acalentaram em momentos findados. Quando a dúvida e o breve sopro de felicidade te anseiam. Ardorosamente, por cada gotícula resguardada, no teu sangue quente. E te rubram as faces e te ateiam ao impulso não desfeito.

          Hoje já é primavera. Todas as tuas flores se abriram em lábios, em silentes verbos. Quando mansos e desejosos olhos almejam, como um céu escuro, se, precipitado pela lua cheia.

          Olhando a noite alta, a luz esguia tolera o convencimento, ciência de que o lugar correto e necessário é onde se está.  Olhando estrelas, mesmo que não estejam lá, ainda se é possível tecer vida. Tecer sonhos. E, apanhar os risonhos rostos pelo dia que nos contenta, ou que nos deveria contentar.

          Quando os dias pesados forem todos tombados, restará o céu, motivo de aspiração de vida. E, se expirando também a vida, o firmamento de azul há de se elevar a cantar. Sem que jamais seja medida a quantidade de versos que esse presente possa e se coloque sublimadamente a traçar; por cada momento vivenciado e sutilmente tornado em poesia a enveredar a alma carente de versar.














AndreaCristina Lopes
Enviado por AndreaCristina Lopes em 01/10/2010
Reeditado em 19/07/2011
Código do texto: T2532636
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