Mundo mortal que é

E você, que me fez fluir na imensidão desse mar que é a vida. E você, que mesmo sem eu conhecer, me fez relembrar um processo tão doloroso que há tempos não vivia: o luto. O velho e tão temido luto. Só porque eu chegava pra nadar e você me sorria um feliz sorriso de “vou com a sua cara, sabia?” já me conquistou e, por conseqüência, me fez escrever tudo isso aqui, “derrepentemente”. Como num passo para a eternidade e pros além-mar dessa nossa existência, eu, um tempinho atrás, hoje de manhã, não tive a mesma inspiração ao falar de Sartre numa prova. Agora, não sei bem o porquê, tudo me flui, tudo e nada me escapa da vista, da memória, da percepção de que você poderia estar por perto de mim. O amigo que eu deixei de ter, o conhecido que eu admirava à distância, o velho detentor de um sorriso magnífico. Esse era você pra mim. É ainda. Imagine o que poderia ter sido, caso eu tivesse tomado vergonha na cara e fosse até o andar de cima da piscina e falasse “vou com a tua cara, sabia?”. Quem sabe não tivéssemos nos identificado somente com uma frase singela como esta. E por que não? Nunca saberemos, meu caro. Nem sei ao menos se, neste instante em que me lembro [pela milésima vez] de você, sou percebida, vista daí donde quer que esteja.

É, sim. Senti. Senti por não ter sentido com a mesma intensidade o que tantos que o amavam muito além do que eu posso imaginar sentiram. E parece ser uma marca, uma ferida, que nunca vai cicatrizar. Haverá sempre esse “e se” no pensamento meu. Tristeza, frustração, sentimento, sensibilização de que tudo deve ser feito no momento em que se tem a certeza de que aquilo é querido. E a lição de que, de agora em diante, dúvidas serão esclarecidas no ato em que se estabelecem. Assim como os laços. Esses preciosos companheiros nossos.

Lorene
Enviado por Lorene em 28/09/2010
Código do texto: T2525541
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