Sina feminina

 

Tão entregue como animal adestrado, conformara-se com a vida, com o pouco, com a lida. Entregara-lhe o melhor de si. Tantos anos, tantos prantos, tanta sensibilidade adormecida.

A mulher quando se casa, entrega uma parte da vida; entrega cega, imperceptível; sabotagem silenciosa que a faz seguir caminhos inesperados. Mesmo aquela que por príncipes não espera, adormece ao entregar-se ao outro, aos outros...

Tão esquecida de si, tão entorpecida em seus sonhos, tão condicionada a doar, tão demagogicamente contextualizada no nada.

Crescera em uma rigidez quase absurda. Para ser feliz, sentir-se feliz, deveria ser agradável aos homens... Servir, sorrir e jamais se queixar...”Homens não gostam de mulheres que se queixam, que falam demais... homens não gostam!”

Pensava... O que realmente lhe importava? Agradar a si ou ao outro? Por que deveria calar-se?

Onde sufocaria tantas dúvidas, tantos argumentos, tantos desejos?

Era Vida o que queria e não era necessário muito!

E agora que se submetera sem murmurar? Havia sabotado todos os seus sonhos, não mais se sentia senhora de si.

A mulher ao casar-se, sofre uma espécie de embotamento. Tudo passa a ser mais importante, tudo está acima de seus anseios... E é um processo natural, tão bem estruturado que quando se dá conta encontra-se diluída em um contexto que não a inclui. Passa a ser coadjuvante de si mesma, protagonista de uma tragédia pessoal.