[O Muro: Por quê?]

O Muro — o muro por quê?

É assim — ou quase assim:

ontem, caiado de branco,

chapiscado com pedriscos para ralar joelhos;

hoje, pichado de signos dos fins dos tempos,

os traços de almas no escuro, apodrecidas de vazio;

inutilmente alto aos olhos cúpidos,

pois nunca impediu os assaltos;

tétrico, em especial na lua cheia,

ao separar mortos de vivos;

orgulhoso, ao separar o quintal da mansão

da rota dos cães sarnentos que nele mijam;

instituidor de cansaços, pois, às vezes,

estende-se ao longo de ladeiras de doer as pernas;

o muro surdo, orgulho de uma ideologia,

para minha alegria, uma impossibilidade nos trópicos;

o muro, um empecilho para a atividade

formigueira dos pequenos ladrões — coitados!;

o muro, um questão de ponto de vista,

obstáculo, ou estímulo de superação;

o muro — nada... agruras da rua da infância,

perdição, perdido blues, perdido tango...

... e perdido eu, que lanço discurso inútil

contra muros de moucos ouvidos...

[Eu sou rude mesmo, sou a humilde

argola terceira do longo chicote de couro cru...]

[Penas do Desterro, 21 de setembro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 22/09/2010
Reeditado em 28/12/2010
Código do texto: T2512700
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.