O EU À FLOR DA MEMÓRIA
“... Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.”
Fernando Namora, em “POEMA PARA ILUDIR A VIDA”.
Deixa um pouco de ti em minha imensa solidão, deixa palavras ao ouvido e corpo colado. Ando triste e preocupado com o andejar dos dias. Não encontro motivos para continuar andando sem rumo. Os caminhos da primavera me contam de flores, mas eu só vejo tristezas e injustiças a minha volta. O mastigar dos afetos, no limiar dos corpos, é saudade ensaiada ou retorno ao útero? Deixa-me nadar na tua placenta... Talvez seja este o elemento instintivo de todo o vivente: boiar tal uma cortiça à flor da memória. Ou eu sou eu mesmo dentro Dele numa permanente fagocitose?
– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/2511273