Sobre saudades, montanhas e solidão

Enquanto escrevo estas palavras, alguém atrás de mim murmura em silêncio. Antes de começar a escrever, estávamos olhando juntos para as montanhas atrás das montanhas que são possíveis de ver da minha janela. E desse olhar distante passamos a olhar para dentro de nós. Sentimentos atrás de sentimentos. O que está além do meu gostar por você? O que esconde a palavra saudade? Quais são seus matizes? Seus limites? A propósito tudo que conversamos está aqui, vale a pena registrar. E ela diz neste momento: Ninguém vai entender, apaga tudo isso. Teimo e continuo escrevendo. Continuo gostando, continuo sentindo. As montanhas continuam no mesmo lugar.

(...)

Reticências? Sim. Fiquei quieto por instantes. Olhei pra ela, também quieta, escutamos o som paradoxal do silêncio. E o silêncio diz: Sinta-me com todo o seu ser.

E depois do silêncio falamos de tudo, conversamos sobre diversas coisas, não paramos. De repente parei e voltei a escrever...Sozinho. Sim, ela não está atrás de mim murmurando em silêncio, não olhou as montanhas atrás de montanhas. Mas mesmo assim ela está comigo, mesmo longe e não demorará muito para que voltamos a nos ver. A saudade faz isso. A ausência sentida, doída. E a propósito nem dá pra ver montanhas agora porque chove muito e também está de noite. Mas ainda que esteja escuro consigo te ver, tudo está molhado, exceto meus olhos, sim, eles não estão molhados de lágrimas, não há por que chorar, pelo contrário tenho mais é que sorrir por saber que tenho a ti.

Tanta prosa. E a poesia? Parecia rosa, parecia riso, parecia reza, mas é oração de coração.

E antes, sozinho, quando via lua cheia, era pra mim lua vazia. Não enxergava um jardim de flores, mas sim ervas daninhas. Oh quanto exagero! Que seja. É uma forma de expressar alguém que não está sentindo nada. Como se os olhos não reconhecessem as cores, e sentisse apenas as dores de uma solidão bem no meio da multidão.

20/09/2010