Enquanto as pedras parecem amolecer...

...eu pareço continuar andando por sobre elas, sem dó. Da mesma forma que percebo que você está parado lá no início, antes mesmo de saber que gosto tem percorrer um caminho indefinido e, pelo que parece ser, incômodo. Às vezes me sinto só no mundo. Às vezes tenho esta sensação por não saber se tenho você pra confirmar de que não estou realmente. Por que será? Será o breu das casas que fotografo com meus olhos, ou os seus olhos que parecem não fixar nenhuma imagem sequer?

Uma nesga de inspiração me acomete agora. Não é engraçado? Exatamente agora, que você me parece como um algo estranho e desconhecido é que me vêm as palavras certas. Enquanto estava tudo bem, ou parecia estar, nada me ocorria. Quem sabe eu não deva dar mais valor às palavras que aos lábios que partem daí e chegam até mim raras vezes, não é?

A pele sente a falta. Os olhos também. E aí? Faz-se o quê com isso?

Matar ou morrer. Oito ou oitenta. Agora é com você, meu bem. Digo, “bem”, porque de “meu” há nada.

Estar ou não, ficar ou não, findar ou não. Ou não. Ou sim.

Cada memória me ocorre com um ar de desdém. Uma estranheza que não me pertencia antes. Será mesmo que esta sou eu? Angustiada e sem saber as respostas?

Bom, respostas eu tenho, só não quero crer nelas. Às vezes me é tão óbvia a indiferença que parte do outro lado do tabuleiro, do lençol, do banco, da raia que divide a química que há entre nós.

Raia. Raiva.

O toque diferente, o sorriso que não é mais o mesmo, a leveza que já se perdeu neste caminho nosso sem fim e com um retorno triste. É... não somos mais os mesmos.

Mas eu consigo ainda recuperar aquele rosto que se pintava com o inesperado por detrás da porta de saída.

E quanto a você? Imagino continuar na rigidez que os anos e as marcas te deram. Certo? Admitamos, não há mais um ser humano aí. Certo? Errada, eu? Não, não... você que não quer ver. Seus olhos estão opacos demais para perceberem a si próprios.

Vou desligar agora. E não me ligue com um pedido para uma foda casual. Oi? Acertou, nem isso me interessa mais em você.

E o silêncio ensurdecedor de cenas como estas tomou conta. E não acabou mais.

Lorene
Enviado por Lorene em 20/09/2010
Código do texto: T2509185
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