Madeira de Lei

Aos poetas de plantão nessa noite cercada,

Se tu tens orgulho e eu violão, celebremos.

Milhares de nós, por aí, estão a difamar nossa língua;

A língua que beija, que unge, que punge e se aproveita;

Da quede e breve cinza, um crepúsculo feneceu;

Extinguiu-se de mansinho, como léguas almoçadas pela lebre;

Sete tormentas aos que me ouvem com olhos de seringueira;

Sabes, ali há um mundo. Nele cavarei minha sepultura lígnea;

Com o tempo, cercar-me-ão carvalhos sem bugalhos; prezar-me-ão!

Far-me-ão generosa sombra as folhas, com siso, do amarrotado pinho (as sobras de lume que o mosto fervia, ceá-las-ei com balsâmico acético);

E não tenho fúfia esperança nem terei ventura de contar com os anjos;

Minhas sonatas enaltecerão cumplicidades - abutres túrgidos que me compeliram na vida;

Abraço o leso e companheiro pinho, e tento roubar de suas cordas, bruxarias e vaidades, as mesmas entidades bebedoras de chás das cinco;

Destampo a botelha desamparada no fundo da mesa e mergulho no néctar que fulmina a dor de parto (mas dilacera a dor do peito), os neurônios sociáveis e aniquiladores a trafegar na treva iluminada da nulificação do meu ser.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 27/09/2006
Reeditado em 04/10/2006
Código do texto: T250911
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