Tempo dos Jarros
Memoriais de Sofia/Zocha
(os roseirais de Zavadwski)
A poeira cinge o ar e evapora e por onde ele passou os sulcos profundos impregnam o chão entre as araucárias. Ao longe a figura alta, esguia, o sobretudo escuro, os passos compassados, largos, ei-lo chegando sempre pontual para as aulas de latim. Seus olhos de intenso verde escuro fitam e filtram perscrutadoramente tudo ao seu redor. Seus olhos se abrem em leque e flamejam. Há um solene murmurejar de águas puras que cai daquelas quedas d’água, ele sabe o sentido dos ventos e dirige a embarcação com ternura, conhece a lírica dos mastros e sabe da prenhez dos delírios daquelas moçoilas ávidas, botões frescos naquele jarro de vidro, onde a roupagem das folhas sob os caules confundiam-se e a água desnuda deixava entrever seus corpos translúcidos, de translúcidas sílabas que rebrilhavam aos olhos na lousa úmida do poema. Sobre a sua escrivaninha simples rescende aquele maço singelo de botões que trouxe de seu roseiral, uns abrem-se, outros pendem, apóiam-se uns sobre os outros, se compactam, bebem da mesma luz, guardam-se das sombras, a luz num esbate, noutro trafega de raspão, os olhares se ocultam, vicejam, rastreiam-se...os botões se abrem e se fecham, ele cuida para que nenhum pereça antes de abrir-se...
É o tempo daquele jarro sobre a mesa, é tempo de degustar daqueles aromas, de ouvir a força das sementes além do cinzel, na acústica dos grãos esfolfando cada botão, cada destino, ele sabe, lhe foi dado a guarda do tempo daqueles jarros, de suas podas, dos cuidos de cada um, versos vivos naquele quintal e ele era apenas um jardineiro, um emigrante, um estrangeiro e muitas eram as línguas que se falavam naquela aldeia, mas, parecia que só ele era quem falava e entendia dos sons dos grãos do alfabeto e da escrita da linguagem dela...
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