Pura Contemplação
O inverno se retira para dar lugar ao despertar da primavera.
O céu, sem uma nuvem, é de um azul celeste intocável. Uma brisa fresca ressoa e envolve a atmosfera. Tenho a impressão que me quer serena. Procuro me abandonar à sua delicadeza, à sua placidez, ao frescor que se move como uma carícia sobre minha pele.
O sol, nesta época do ano já começa a passar mais a pino e lugares antes na sombra do inverno são agora banhados e aquecidos por raios de vida.
Tudo floresce. O pé de uvaia está coberto de pequenos tufos brancos, que, vistos de longe, parecem pequenos flocos de neve a branquear seus galhos. As abelhas, atraídas pelo suave perfume dessas minúsculas flores, envolvem a árvore e o zumbido produzido por elas se junta ao canto dos pássaros dando origem a uma envolvente orquestração.
Observo os pássaros; uns mais próximos outros mais distantes.
Um sabiá canta forte e incessantemente encobrindo o canto suave de outros pássaros. Quando, por segundos, ele silencia, sou envolvida por outros diferentes tipos de canto; sonoplastia à beleza e ao milagre da natureza
Por sorte ou por acaso, minha casa está situada entre dois terrenos ainda vagos, onde a vegetação com árvores altas abriga muitos pássaros. Sei que algum dia tudo será devastado para dar lugar à construção de mais uma moradia moderna, com piscina e muito cimento; artefatos que nada combinam com folhas secas.
Como são frágeis as árvores ante a insensibilidade do homem e suas maquinas poderosas.
Um vento leve, que tudo envolve, faz com que os galhos das árvores bailem em câmera lenta. De repente, uma rajada mais forte de vento faz com que de algumas árvores se desprendam favas secas, que transportando sementes, caem como chuva... Presentes vindos do céu!?
Ao redor: As azaléias, rosa e magenta, estão repletas de flores; enquanto as hortênsias, que iniciam sua floração, em breve serão azuis, roxas ou rosadas.
A um canto, o pequeno manacá, espalhando no ar seu perfume inebriante, oferece um buque de flores brancas e roxas. Flores que nascem roxas e envelhecem brancas; assim como os meus cabelos que eram escuros e agora já pratearam.
Para completar o cenário de paz e harmonia: O pequeno cão corre alegre, atento aos sons que preenchem o ar.
Vim ao jardim para ler, mas não consegui. Extasiada ante a beleza do momento, me deixei ficar. Nada que o livro me descrevesse poderia ser mais importante ou bonito do que este momento de encantamento.
Saber usar os sentidos para perceber os sons, as cores, os cheiros; sentir a maciez da brisa e o gosto da primavera envolvendo a alma: É dádiva
Sou feliz, e agradeço, pelo que contemplo e por conseguir ver beleza onde muitos não atentam ao borbulhar de vida que nos cerca.
Lisyt